Crônica: A carne mais barata do mercado

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Por: Sérgio Sant’Anna*

Dirigindo-me para casa, como faço todos os dias ao sair dos colégios que leciono, sou abordado por um senhor que insistentemente exige que eu me justifique, pois afirmara que não realizara o serviço conforme o previsto. Aquele senil confundira-me com um dos funcionários da companhia que afere aos medidores de fornecimento d’água na cidade. Ser confundido com estes de profissão tão nobre não há problema, a questão é que ele me confundira pela minha melanina, pelo fato de ser negro.

Essa não é a primeira vez que o racismo se faz presente, há dois anos uma aluna conseguiu designar uma horda de soldados digitais para compararem algumas fotos minhas com as de um macaco. Aqui em Santa Catarina, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, no ano passado tivemos o maior registro de casos de injúria racial. Mais de 2900 casos. Em 2021 esse número foi pouco menor – 2856 casos. Essa demonstração de desumanidade é maior por aqui, todavia o Brasil foi palco do racismo escancarado. Foi terra em que cidadãos negros, arrancados à força de seus lares, eram brutalmente tratados. Açoites, fome, doenças eram o caminho traçado pelo branco brasileiro ao negro que para estas terras era trazido.

Por mais de 300 anos o negro foi escravizado. Foi humilhado. Foi destratado, sendo condenado a viver à margem da sociedade. Para alguns um processo de higienização principalmente com o advento do naturalismo e sua eugenia. Porém, enganam-se aqueles que atribuem o processo de humilhação aos negros no Brasil durante o regime monárquico, somos humilhados até hoje, destratados, levados a situações tristes e que trazem dor.

O altruísmo que vem sendo chamado ao baile há décadas parece ser apenas para citações a serem lançadas nas redes sociais, uma onda de hipocrisia (palavra que se destaca diante do pragmatismo vigente. A mentira alimenta há muitos há outros serve como nutriente.

Só para termos ideia, a população negra no Brasil é de mais de 54%, ou seja, negros são a maior parte da população nacional. Agora, por que tratamentos distintos. Em Santa Catarina, 17% são negros. Um número distinto pela sua real colonização, porém nada disso aconteceria se o ser humano enxergasse apenas outro ser humano, contudo os olhos e as línguas com fel são muito maiores do que essa ínfima representatividade da da população negra em SC.

Nesta sociedade alicerçada no preconceito, no racismo, todos devemos estar atentos, vigilantes e sermos antirracistas. Como afirmou Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.

* Sérgio Sant’Anna é Professor de Língua Portuguesa do Anglo e COC Professor de Redação da Rede Adventista e Jornalista.

**Os artigos  publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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