Artigo: A caminho de Taquaritinga – uma mensagem para o Dia das Mães

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Por: Paulo César Cedran*

Na estrada que me leva para Taquaritinga, quando estou próximo ao sítio do senhor: Hitaro Ogata, me transporto, quase todo dia, para um cenário paralelo, àquele que visualizo. O real, lindo com curvas e árvores, descidas e subidas que já nos faz visualizar a cidade, não me pareço tão bonito quanto àquele que viajo com os olhos de minha mãe, no auge de seus dezoito anos de idade. Para esta viagem, recorro, sempre, à sua voz que falando aos meus ouvidos, me faz lembrar, com suavidade, que ali na casa que ficava à beira da estrada, que ela morou com meus avós e tios, e foi ali que nasceu sua irmã caçula, Ivone. Dali também, é que vem a lembrança da história, de um feliz dia de sábado, dos muitos que eles viveram, mas que deixou marcas, que a trazem presentes, hoje juntos a nós. Costumava dizer minha mãe, que o vô Teodoro, tinha o costume de fazer compras na cidade e, como já era moça formada, sempre trazia algo para lhe agradar. Desses presentes, por exemplo, ainda tinha guardado caixa de pó Cashmere Bouquet – com mecha do primeiro corte de cabelo meu e do meu irmão, Teodoro. O cheiro do pó ainda é presente neste relicário que ela guardou e deixou para nós com tanto amor.

                    Mas este sábado foi diferente, ele queria presentear-lhe com uma corrente e uma pulseira. A corrente de ouro toda trabalhada, tinha uma pequena medalha que se perdeu, mas que ficou eternizada no quadro, pintado à moda antiga, uma mistura de pintura com fotografia, a quem as famílias mais humildes recorriam. Assim, ela foi com meu avô de charrete para a cidade e o acompanhou nas compras e, ganhou de presente, essa corrente de ouro, com pingente, uma pulseira dourada, com detalhes em vermelho e um par de brincos de ouro com rubi, comprados na Joalheria Ponzio, joias delicadas e finas, que realçavam ainda mais sua beleza. Meu avô ainda lhe comprou um corte de tecido e, sua tia, Vanda confeccionou um belo vestido. Vieram os sapatos, meias e a moça, no alto de seus dezoito anos, estava linda para ser retratada, cheia de alegria que ela nos contava. Que voltaram felizes para o sítio, comendo lanche de pão com mortadela, comprados na Padaria Central, pelo mesmo caminho da entrada antiga de Taquaritinga. Percorrer esse caminho, nos dias de semana, e lembrar que essa memória está tão viva,  me transporta para essa história de alegria do final de semana, me faz encontrar um pouco mais de força, para enfrentar a dor da ausência do segundo ano, sem sua presença no meio de nós. Como é difícil encontrar palavras para externar a sensação de orfandade e vazio que sinto, quando procuro pela minha mãe e não a encontro. A escrita me salva, me ajuda a eternizar na memória, nos objetos, nas fotos, no cheiro, nas vozes que escuto, a sua presença junto a mim, chego a dizer junto a nós, eu e meu irmão – os meninos que ela adorava. Do porta retrato, azul e dourado, aquela foto que foi colocada por ela num quadro e eu o deixo ali, como ela o colocou, cuido, olho e a vejo todo dia sorrindo e com ela viajo, nessa viagem tão feliz que ela fez nos seus dezoito anos e, quem sabe, ainda hoje, ela a refaz, toda vez que, chegando neste trecho da estrada, sinto sua presença terna e materna a me acompanhar.

*Paulo César Cedran é Mestre em Sociologia e Doutor em Educação Escolar.

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