Erga Omnes – Quando tudo vale a pena

Compartilhe esta notícia:

Por: Gustavo Schneider Nunes*

Certa vez, ao término da aula de Direito Processual Civil I, um aluno perguntou se poderia conversar comigo em particular, o que, de pronto, assenti positivamente. Ele disse que tinha uma dúvida, que, na verdade, era um objetivo: aprender a estudar direito o Direito.

Tratava-se de um bom aluno, não excepcional, mas esforçado, daqueles que não perdem uma aula e que fica sempre atento a tudo ao que acontece em sala. Estudava à noite e trabalhava durante o dia.

Feliz por ter sido procurado pelo aluno, em razão do interesse nos estudos, perguntei-lhe, primeiramente, como ele estudava.

Ele me disse que tinha o tempo escasso, e, assim, o seu estudo extraclasse se concentrava em assistir à vídeo-aulas no Youtube.

Vi aí algo que tem se tornado comum e que já pressentia desde o início em relação a esse o aluno: ele substituiu a leitura por vídeo-aulas.

Eu disse que isso era um erro e lhe sugeri uma alteração comportamental composta pelas seguintes etapas:

(i) anotar os apontamentos relevantes apresentados pelo professor no caderno ou no notebook, fazendo, inclusive, seus próprios esquemas e resumos;

(ii) ler a legislação seca relacionada à matéria; e

(iii) finalizar o estudo pela leitura de pelo menos um dos livros indicados nas referências bibliográficas, fazendo fichamentos.

Após isso, disse-lhe que poderia também indicar algumas vídeo-aulas selecionadas com critério.

– Então, professor, quer dizer que o senhor não tem um caminho mais fácil para me indicar?

– Não existe mágica. Esse é o caminho mais fácil. Quer dizer: esse é só o início do caminho que você deve percorrer. Porém, a opção desse caminho mostra-se fundamental, pois é mudança de hábito. Tem uma frase que eu gosto muito, do Edson Marques, que vale para todo mundo: “Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade”.

– Então esse é o primeiro passo?

– Sim. Outro passo importante na vida do estudante de Direito é o estágio. Você precisa aprender a fazer na prática aquilo que é tratado em sala. Ainda que as aulas conciliem teoria e prática, no estágio você vivenciará situações reais extremamente importantes para o seu aprendizado. Aprender fazendo é algo altamente enriquecedor.

– Esse é o segundo passo. Tem o terceiro?

– Tem o terceiro, o quarto, o quinto… Vou lhe dar apenas mais duas orientações que acho importantes. Uma é para você criar um grupo de estudos com os seus amigos de classe, a fim de que um possa explicar a matéria para os outros. O melhor jeito de aprender é ensinando. A outra diz respeito à pesquisa científica. Identifique assuntos do Direito que gostaria de estudar com mais profundidade, buscando apontamentos doutrinários e analisando a jurisprudência dos Tribunais. Enfim, integre um grupo de pesquisa da faculdade.

– E ainda tem o Exame de Ordem daqui a uns anos!

– Com certeza. Além do Exame de Ordem, você terá muitos outros desafios e estará pronto para vencê-los, um a um.

– Bom, professor, valeu pelo papo. Vamos que vamos. Sempre em frente.

Passado alguns anos, em uma aula da pós, em outra instituição, encontro esse mesmo aluno, agora sabendo que se trata de um advogado traçando uma carreira de sucesso. Ele veio em minha direção, me deu um forte abraço, dizendo: “professor, obrigado por aquelas palavras que o senhor me disse no início da graduação. Elas foram decisivas para mim”.

Emocionado, lhe disse: “quem agradece sou eu”.

Há coisas que o dinheiro não compra. Essa é uma delas.

* Gustavo Schneider Nunes é advogado, professor e doutorando em direito pela UNAERP.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!

Compartilhe esta notícia: