Artigo: Famoso quem?

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Por: Rodrigo Segantini*

Você pode jamais ter ouvido falar em Elon Musk. Porém, certamente, ele foi escolhido como a Personalidade do Ano pela revista norte-americana Time, uma seleção que acontece anualmente há quase 100 anos e que, de alguma forma, mostra como tem caminhado a humanidade. Não se trata de uma homenagem propriamente dita, mas apenas a indicação do perfil de um homem, mulher, casal, grupo, ideia, lugar ou máquina que, para o bem ou para o mal, mais influenciou eventos no ano.

Mas, afinal, quem é Elon Musk? Atualmente, ele é o homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 266 bilhões (ou inacreditáveis 1,5 trilhões de reais, o equivalente à soma de todas as riquezas que o Brasil todo produz em um ano inteiro). Ele é tão rico que a ONU disse que, se Musk quisesse, ele poderia acabar com a fome no mundo doando 5% de sua riqueza – o que ele aceitou fazer, desde que os países se comprometessem a interromper todos os conflitos e guerras, o que, obviamente, não aconteceu. A origem desta montanha enorme de dinheiro vem de suas atividades relacionadas a atividades que vão desde operações de satélite a produção de carros elétricos até a colonização do espaço. Seu objetivo é, nos próximos anos, povoar a Lua e, na sequência, mandar uma missão para Marte.

Apesar de ter sido escolhido como Personalidade do Ano pela revista Time em 2021, Musk não é alguém acima do bem e do mal. Há inúmeras acusações contra ele a respeito de sua conduta e seu comportamento. Ele, por exemplo, minimizou a pandemia de covid no mundo e não investiu um centavo para aliviar o impacto da doença, seja para produção de vacinas, seja para equipar instituições de saúde ou para acudir os sequelados. Pelo contrário, ele, embora vacinado e em isolamento, exigiu que seus funcionários não deixassem de trabalhar mesmo em meio ao pior cenário em termos de infecção e contágio, o que o levou a receber inúmeros processos trabalhistas. Aliás, ele é considerado um péssimo patrão, havendo denúncias contra si por assédio sexual e racismo.

Pesando prós e contras, fatos e versões, lá e cá, ninguém duvida que Elon Musk é o sujeito que está escrevendo a história da humanidade nos próximos trinta anos desde já. Enquanto a Nasa não sabe bem quando será capaz de voltar à Lua, Musk já pensa em criar uma colônia humana lá nos próximos dez anos. Enquanto uma crise de petróleo já se avizinha e se pensa em alternativa aos combustíveis fósseis cuja escassez pode se dar causa a uma tragédia em breve, Musk viabilizou a produção em massa de veículos elétricos. Você pode não saber quem é Elon Musk, mas seu neto certamente saberá e falará dele como hoje falamos de inventores famosos, como Graham Bell para o telefone e Santos Dumont para o avião.

O que chama mais a atenção na seleção da Personalidade do Ano da Revista Time em 2021 não é a escolha de Elon Musk. O que mais chama a atenção é que, por pouco, o selecionado não foi, vejam só, Jair Bolsonaro. A indicação do escolhido é feita a partir de três votações: a popular, de ampla participação pela internet; a de especialistas, selecionados em meios acadêmicos e culturais; a dos jornalistas. Na votação popular, ganhou Bolsonaro, em razão de uma campanha que se descobriu que foi impulsionada e patrocinada por apoiadores, o que, uma vez desmascarado, só mostrou quão ridícula foi tal estratégia. Mas, claramente, nos outros dois segmentos de votantes, o desempenho de Bolsonaro foi inexpressivo, o que tirou dele a possibilidade de ganhar o certame da revista.

Elon Musk, que está começando o novo capítulo da história da humanidade, foi escolhido a personalidade de 2021; Jair Bolsonaro, que mal será uma nota de rodapé na história da humanidade, precisou contar com o auxílio de apoiadores e impulsionamentos para tentar se emplacar em mesma condição. Nem é preciso esperar pelo futuro para dizer se a escolha foi acertada, mesmo que, na possivelmente fraudada eleição popular pela internet um tenha se sagrado vencedor. A voz do povo pode ser a voz de Deus, mas claramente nem sempre tem razão.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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