Artigo: Para não esquecer: golpe começa com g

Compartilhe esta notícia:

Por: Isabela Nascimento*

Há cinco anos, sofríamos o golpe que nos trouxe até este 2021. Em 31 de agosto de 2016, foi aprovada a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, primeira presidenta eleita, cumprindo seu segundo mandato, o qual conquistou democraticamente com 51,64% dos votos.

Há cinco anos, Dilma Rousseff sofria com ataques megalomaníacos e não condizentes com seus “erros”: de adesivos misóginos nos tanques dos carros – quando a gasolina custava R$2,68 – a sucessivas capas de revistas com todos os teores e odores machistas possíveis, sendo chamada de histérica enquanto sua reputação era violada por um país inteiro. Ainda assim, a ex-presidenta suportou com fibra e altivez todo aquele processo respondendo à treze horas de interrogatório. 

Hoje, calados, pagamos sete reais em cada litro de combustível. Hoje, aceitamos um presidente grosseiro e indecoroso, que carrega em suas costas mais de vinte crimes de responsabilidade e que foge de debates públicos e de entrevistas à oposição.

Há cinco anos, a nação sofria um ataque neoliberal, orquestrado por aqueles que estavam inconformados com a derrota nas urnas. Um Congresso inteiro empenhado em implodir o governo, impedindo tantas pautas importantes de irem adiante, exceto o Impeachment, pois esse aconteceu com facilidade.

Hoje, o cenário é outro: Arthur Lira se contorce e faz malabarismos para não aprovar os mais de cem pedidos protocolados contra Jair Bolsonaro e endossados pelo movimento do povo nas ruas. Foi também feita de malabarismos a atuação de Sérgio Moro no pós-golpe. Os vazamentos ilegais, as condenações sem provas e os processos arbitrários tinham como único objetivo retirar figuras importantíssimas do debate político de 2018. Era necessário garantir a continuidade do plano começado em 2016.

Há cinco anos, a nação sofria com a manipulação midiática, cujo principal legado foi o ódio gratuito e a falta de criticidade. Com narrativas contraditórias, mas bastante atraentes, a mídia criou a imagem de um país quebrado e carente de reconstrução. Pois é esta a reconstrução que conquistamos? 

Para não esquecermos jamais: foi golpe. Tenha você defendido ou não. Goste você do PT ou não. Tenha você concordado ou não. O nome é este mesmo e seus efeitos ecoam no prato que hoje está na nossa mesa – e que não mais está na mesa de muitos. Seus efeitos também estão nos direitos que nos foram tirados e na mentalidade de quem quer fuzil no lugar de feijão, de quem quer armamento no lugar de educação.

Foi golpe. E ele sempre será uma mancha em nossa jovem e rarefeita democracia.

Golpe começa com a letra g. Golpe, também, começa com ataques à liberdade de expressão, com as ameaças ao STF, com desfiles militares pelas ruas e com a descredibilidade do sistema eleitoral.

É preciso estar atento e forte.

*Isabela Nascimento é Professora de Redação e Espanhol, Bacharela em Letras e Mestra em Estudos Literários.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

Compartilhe esta notícia: