Artigo: Crise dos Semicondutores, como isso pode chegar no seu bolso?

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Por: Felipe Piancatelli*

Em meio ao cenário que se instaurou em 2020, devido a pandemia de COVID-19 no mundo, foi observado um colapso quanto ao uso de dispositivos semicondutores, sendo esses, peças essenciais para uso na indústria de tecnologia fina e mais rudimentar e simples como a indústria automobilística.

Dispositivos e chips semicondutores são partes minúsculas e microscópicas, mas com importância gigantesca dentro do setor eletrônico. Esses dispositivos estão cada vez mais em uso no cotidiano do cidadão comum brasileiro e mundial. O simples fato de o leitor do artigo estar utilizando um computador ou um celular nesse momento para leitura, já o torna um usuário de um grupo de dispositivos semicondutores no interior dos circuitos de processamento de dados interno desse dispositivo.

Mas que crise é essa? – Como, a maioria dos dispositivos atrelados a tecnologia são produzidos e desenvolvidos na China, e o extremo leste asiático, onde foram os berços da explosão da pandemia, mostraram ao mundo que a curva de produção desses dispositivos estava terrivelmente distante da curva de demanda. Além do crescente consumo do setor automobilístico, a necessidade do trabalho remoto e dos estudos à distância fizeram com que houvesse a necessidade de renovação da “frota” de dispositivos eletrônicos para suprir a demanda.

Outros fatores que contribuíram com a escassez dos semicondutores, foi o entrave político entre EUA x China, que fizeram com que os dispositivos produzidos em solo americano não chegassem as montadoras chinesas. Além disso, a seca extrema em Taiwan, outro fabricante enorme da tecnologia, também foi um problema na produção.

E como afeta o bolso no brasileiro? – Um estudo global feito pela consultoria KPMG disse que o prejuízo já supera cerca de 100 bilhões de dólares em vendas, cerca de 520 bilhões de reais, esse valor, atrelado ao déficit entre a relação oferta de produto x demanda consumida, fez o valor dos semicondutores aumentarem em alguns casos cerca de 150%. Esse valor que certamente será repassado ao preço final do produto.

Para a classe consumidora, os efeitos são a escassez de produtos eletrônicos e de bens comuns, os lançamentos de dispositivos como marcas mais conhecidas como Apple, Samsung, LG, Sony e Microsoft. As últimas duas marcas, por exemplo viram seus lançamentos serem prejudicados e prejuízo em vendas se superam a cada dia.

Na indústria automobilística, os impactos foram a escassez de veículos, e algumas marcas como a General Motors, veio a público declarar falta de veículos temporariamente.

Com a falta de produtos, o preço aumenta drasticamente, fazendo com que smartphones, televisões, notebooks e até mesmo veículos automotores, sofressem com a explosão de preços, até mesmo veículos e equipamentos usados, que para acompanhar a alta dos preços de novos produtos, tiveram que se ajustar. Hoje alguns veículos e equipamentos eletrônicos seminovos possuem valor de venda maior do que o que um novo do mesmo modelo em 2019, mesmo que valores ajustados pela inflação.

Uma conclusão a ser feita, é o extremo risco de dependência da tecnologia dos semicondutores para o futuro do desenvolvimento e consumo de tecnologias de ponta ou mais simples. Vale a pena aumentar a produção ou melhorar a eficiência dos produtos para não depender de matéria prima?

*Felipe Piancatelli é Graduando em Engenharia elétrica pela USP São Carlos, Graduando em Física pela UNICID, Pesquisador do departamento de engenharia elétrica e da computação pela EESC/USP em conjunto com Universidade de Tecnologia de Brno (República Tcheca) e Engenheiro Eletricista Jr na JBT Food Technologies.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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