História e Memória – Taquarão: 38 anos

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Por: Nilton Morselli*

Neste sábado, feriado do Dia Internacional do Trabalho, o Estádio Municipal Dr. Adail Nunes da Silva completa 38 anos. Foi batizado assim após a morte do prefeito que o inaugurou. Adail (1916-1986), no último de seus quatro mandatos, promoveu uma grande festa para marcar a entrega da obra, realizada graças a um trabalho que envolveu lideranças da sociedade, a mão-de-obra de dezenas de taquaritinguenses e campanhas de doação de material de construção, com as quais toda a cidade colaborou, de comerciantes até os mais humildes trabalhadores.

O nome original do estádio surgiu naturalmente, por criatividade do povo que o colocou em pé. Taquarão é aumentativo da raiz do nome da cidade e, ao mesmo tempo, simboliza a amplitude da obra. Os anéis de concreto da arena comportavam, naquele início dos anos oitenta, nada menos que metade da população da cidade. Além disso, Taquaritinga sempre teve uma queda por aumentativos: Negão era o apelido do prefeito Adail; e Batatão, o nome do trio elétrico que tornou conhecido o seu Carnaval.

Até hoje o estádio é citado como símbolo de união em torno de um propósito. Não fosse a correria para conclui-lo em noventa dias, o CAT ficaria de fora do Campeonato Paulista da 1.ª divisão, feito alcançado pela primeira vez no ano anterior. O recado da Federação Paulista de Futebol era claro: a cidade construía um campo de jogo suficiente para 15 mil torcedores ou nada feito. O antigo estádio, o Antônio Storti de tantas glórias, seria reprovado. O objetivo foi atingido e com lugares de lambuja – embora nem toda a arquibancada estivesse pronta.

Os três meses da obra, tempo suficiente para matar de inveja diretores de qualquer mega-construtora, entraram para a enciclopédia do futebol nacional. No entanto, a história tem um pouco de folclore. O recorde só foi possível porque a gestão anterior, capitaneada por Sérgio Salvagni, abriu o buraco. A localização do estádio foi definida pela proximidade do Ribeirãozinho, córrego que foi canalizado para acabar com as enchentes. Os 300 mil metros cúbicos de terra retirados serviram para aterrar a região da “baixada”, deixando pronta a caixa do estádio. Com 40 mil metros cúbicos, a futura arquibancada ficou em aterro, evitando o concreto armado, que aumentaria o custo do Taquarão.

Aos seis anos de idade, assisti à inauguração do gigante no meio de uma imensa massa humana. Com a presença do vice-governador Orestes Quércia (1938-2010), foi um evento político bastante concorrido, seguido de uma tarde futebolística para ser apagada da memória. Mas não dá para esquecer. A festa foi estragada pelo convidado, o Cruzeiro de Minas Gerais, que aplicou uma derrota acachapante no CAT: o amistoso terminou em 5 a 2. O primeiro no estádio foi marcado pelo araraquarense Douglas Onça, meia que defendia o time mineiro.

Construção do estádio: ainda cabe mais da metade da população – Foto Museu Histórico Online de Taquaritinga

Foram diversas as pessoas que ajudaram na concretização do sonho, a ponto de ser impossível citar todas. Mas o nome do saudoso Osvaldo Piva (1941-2013) emerge desse grupo por ele ter sido o principal mobilizador popular, uma ponte entre o poder público e a sociedade civil engajada no projeto. Quase quatro décadas depois, o estádio é subutilizado, assim como algumas arenas milionárias construídas para a Copa do Mundo de 2014. O Taquarão é a casa do CAT nas partidas oficiais da Série B do Campeonato Paulista. A competição, cancelada em 2020 por conta da pandemia, deverá ser realizada no segundo semestre. Tomara que com a presença do glorioso Leão.

*Nilton Morsellié jornalista e assessor de imprensa da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).

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