Artigo – Ah que saudades…

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Por: Paulinho Delgado*

Que saudades de nossos pais, que, além da vida, nos proporcionaram valores e princípios hoje tão raros e esquecidos…

Que saudades dos ensinamentos de austeridade e correção recebidos de nossos pais, muitas vezes naquele momento nem tão compreendidos, mas que formaram o nosso caráter para toda a nossa vida…

Que saudades de nossos avós, que nos deram carinho e sobretudo lições de vida que nunca deixamos de lembrar…

Que saudades dos encontros familiares de momentos festivos, com tios e tias, primos e primas, e todos de verdade se confraternizando…

Que saudades daquela infância, que não mais volta, cujo dinheiro era escasso mas a solidariedade e os sentimentos eram abundantes…

Que saudades das missas ou cultos dominicais, onde recebíamos o alimento espiritual da semana e, de quebra, ainda éramos abraçados por familiares e amigos…

Que saudades daquela época em que, como aprendemos com os nossos pais, religião e política não se discutiam. E se discussões houvessem eram prazerosas e sobretudo respeitosas…

Que saudades do tempo em que não precisávamos provar nada para ninguém, mesmo porque honestidade não se adquire, vem do berço…

Que saudades de anos atrás, que mesmo já convivendo com canalhas e levianos, não tínhamos ainda a maturidade suficiente para mensurarmos a extensão daqueles que pautam as suas vidas única e exclusivamente pela maldade…

Que saudades dos anos em que buscavámos a boa leitura e sobretudo a verdade em conceituados  livros, jornais e revistas. Que sequer sabíamos o que era fake news…

Que saudades dos tempos em que, sem redes sociais, nos preocupavamos mais com nós mesmos e menos com a vida alheia…

Que saudades da época em que cuidar e amar era uma obrigação e que ninguém precisava propagandear o que todos sabemos…

Que saudades daqueles anos em que as pessoas se doavam por puro idealismo, sempre preocupadas em servir e não em se servir…

Que saudades de um tempo nem muito distante em que as nossas diferenças ideológicas eram aceitas e que não eram motivo para inimizades…

Que saudades de tantos professores e mestres que já se foram, na certeza de que esta é a única certeza da vida: de que de um em um infelizmente não sobra nenhum…

Que saudades da época em que a morte obviamente já existia, mas parecia estar apenas no dicionário dos outros…

Que saudades da época em que só de ouvir falar em epidema já nos assustávamos. A palavra pandemia nem sequer conhecíamos…

Que saudades de um tempo em que éramos felizes e não sabíamos. E de nada adianta nos enganarmos. Até porque, como me ensinou meu saudoso pai: enganar os outros é fácil; enganar à Deus é impossível; e enganar a si próprio burrice!

Ah que saudades…

*Paulinho Delgado é jornalista, ex-vereador (2001-2004) e ex-prefeito de Taquaritinga (2005-2008 / 2009/2012).

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