Pesquisadores do Butantan revelam diagnóstico capaz de detectar a leptospirose na fase inicial

Compartilhe esta notícia:

Estratégia pioneira se mostrou superior ao teste convencional e conseguiu identificar a doença, em fase inicial, em mais de 70% dos pacientes com resultados falsos negativos.

Pesquisadores do Instituto Butantan, órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde (SES) de São Paulo, desenvolveram em laboratório uma proteína quimérica para o diagnóstico da leptospirose, que se mostrou superior ao teste padrão, conhecido como microaglutinação (MAT), atualmente recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda na fase inicial da infecção, a estratégia conseguiu detectar a doença em mais de 70% dos pacientes que tinham obtido resultados falsos negativos nos primeiros dias de sintomas.

Foto: José Felipe Batista/Comunicação Butantan

Criado pelo grupo da pesquisadora Ana Lucia Tabet Oller Nascimento, do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Butantan, o teste utiliza uma proteína quimérica recombinante, construída de forma sintética e denominada rChi2, composta por fragmentos das 10 principais proteínas de superfície da bactéria Leptospira – aquelas que o sistema imune detecta mais rápido durante uma infecção. O estudo foi publicado na revista Tropical Medicine and Infectious Disease e os pesquisadores depositaram um pedido de patente em março deste ano.

A rChi2 foi purificada e testada em diagnóstico sorológico do tipo ELISA, que avalia a presença de anticorpos no soro de pacientes por meio da reação com antígenos. A proteína foi reconhecida por anticorpos tanto no início da doença, quando o teste padrão deu negativo, como na fase de recuperação, em 75% e 82% das amostras, respectivamente.

Foto: José Felipe Batista/Comunicação Butantan

“No diagnóstico convencional, o soro do paciente é colocado em contato com Leptospiras vivas que se aglutinam na presença de anticorpos [resultado positivo]. O problema é que demora mais de 10 dias para o indivíduo produzir esses anticorpos aglutinantes, dificultando a identificação precoce da doença”, explica o primeiro autor da pesquisa Luis Guilherme Virgílio Fernandes, biotecnólogo com doutorado e pós-doutorado pelo Butantan.

Outro obstáculo do teste clássico é a sua complexidade, por exigir uma grande coleção de bactérias Leptospiras vivas, mantidas rotineiramente, e uma expertise significativa dos técnicos que o aplicam. Por isso, o MAT é feito somente por laboratórios de referência, o que acaba reduzindo o seu acesso.

“Vale ressaltar que o teste padrão possui cunho epidemiológico importante e deverá continuar sendo aplicado. Isso porque ele contém culturas de bactérias Leptospira de diferentes sorotipos, ajudando a identificar qual tipo está em maior circulação ou causando epidemias. As Leptospiras patogênicas [que causam doença] possuem mais de 200 sorotipos”, esclarece a pesquisadora Ana Lucia.

Foto: José Felipe Batista/Comunicação Butantan

O novo diagnóstico também mostrou 99% de especificidade, não apresentando reação cruzada com outras doenças infecciosas como dengue, malária, HIV e Doenças de Chagas, ou seja, ele detecta especificamente os anticorpos contra a leptospirose.

A estratégia do Butantan pode ajudar a identificar a doença ainda na fase inicial, possibilitando o tratamento precoce e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Futuramente, o próximo passo seria desenvolver um teste rápido (semelhante àquele da Covid-19 encontrado em farmácias, chamado de dipstick), utilizando a mesma proteína quimérica. Nesse caso, em vez de secreção nasal, a coleta poderia ser feita por meio da urina ou sangue.

Compartilhe esta notícia: