Artigo: A Barbie é comunista?

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Por: Carlos Galuban Neto*

Nos últimos dias, têm surgido críticas – vindas da extrema-direita – no sentido de que o recém-lançado filme da Barbie seria um grande manifesto a favor da igualdade e, portanto, uma verdadeira apologia comunista.

Mais do que adotarem a insuportável tática (ou paranoia) de enxergar comunismo em tudo, os extremistas de direita, provavelmente aqueles de masculinidade mais frágil, confusos com a profusão de tons de rosa do filme, equivocam-se profundamente na análise das mensagens trazidas pela obra.

É verdade, o filme satiriza – com bastante graça e pertinência, aliás – diversos aspectos da sociedade contemporânea, especialmente as diferenças e discriminações impostas às mulheres em relação aos homens nos mais diversos campos. O suposto “esquerdismo”, porém, para por aí.

Em diversas passagens, por exemplo, fica clara a visão crítica da diretora Greta Gerwig sobre determinada tendência de parte da esquerda, muito comum nos mais jovens, de interditar diálogos e debates com os que pensam de modo diferente, chamando de fascismo tudo aquilo que não é espelho.

Muito além disso, porém, o filme propõe o dilema: o que é melhor? Viver uma vida pacata, composta apenas por atividades lúdicas e banais, porém totalmente controlada por uma instância superior, seja ela divina, o governo ou, até mesmo, alienígena? Ou, então, ser dono de uma existência repleta de liberdades, ainda que isso possa gerar as mais diversas complicações, como dores amorosas, dificuldades financeiras e a obrigação de trabalhar?

A questão não é exatamente original – no próprio cinema, “Show do Truman”, um filme melhor do que “Barbie”, explora o tema de modo mais divertido – e tampouco a resposta é surpreendente: a liberdade, ainda que espinhosa, é infinitamente superior a uma vida de confortável alienação.

Ou seja, o que “Barbie” propõe é justamente o oposto da realidade comunista: é imprescindível que o indivíduo viva livre de amarras, sem ter de conviver com um cenário de igualdade absoluta e ilusória, imposta por castas superiores que, de modo arrogante, julgam saber o que é melhor para a sociedade.

A extrema-direita pode arranjar outra paranoia tranquilamente: a Barbie ainda é uma capitalista e tanto.

*Carlos Galuban Neto é advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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