Artigo: Lima Barreto: excluído, todavia melhor que Machado de Assis

Compartilhe esta notícia:

Por: Sergio A. Sant’Anna*

Lima Barreto, principal escritor do pré-modernismo brasileiro, autor do clássico Triste fim de Policarpo Quaresma, sua obra mais conhecida, situa-se como a voz mais crítica da literatura produzida no Brasil no início do século XX. Negro, com descendência direta de afrodescendentes, ele não ficou alheio às injustiças e aos preconceitos que recaiam sobre seus semelhantes e sobre si. Recusado três vezes pela Academia Brasileira de Letras, Barreto morreu sem o merecido reconhecimento. No entanto, atualmente, sua obra e sua vida têm sido revisitadas, não restando dúvidas de que a força de sua literatura ainda se faz muito contemporânea.

Muito atento ao seu próprio tempo, Lima Barreto transpôs para sua ficção importantes acontecimentos da república brasileira, como a crítica, presente principalmente em Triste fim de Policarpo Quaresma, ao nacionalismo exacerbado e utópico, característica muito cultivada pelo romantismo no século XIX. Ainda nessa obra, critica o autoritarismo militar resultado da ditadura implementada por Floriano Peixoto.

Em seus romances, contos e crônicas, o leitor é levado a ser defrontado, portanto, com a questão racial, pauta ainda pertinente, com a hipocrisia das relações sociais envoltas em interesses econômicos e em prestígio social, com as consequências da busca desenfreada pelo poder político.

Além disso, a visão progressista de Barreto evidencia-se também no modo como utiliza a linguagem, já que não faz uso de um estilo complexo e elitizado, como estava tão em voga pelos parnasianos da época. Ao contrário disso, o autor utiliza um estilo leve, procurando reproduzir um discurso próximo da oralidade, o que deu subsídio aos ideais defendidos pelos modernistas da Semana de Arte Moderna de 1922.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

Compartilhe esta notícia: