Artigo: Para quem?

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Por: Rodrigo Segantini

Taquaritinga é uma cidade incrível, de um povo tenaz, trabalhador, honesto e cordial. Porém, em um mundo dinâmico, em que mudanças acontecem cada vez mais rapidamente, é exigido sobretudo dos jovens que estejam cada vez mais qualificados para ocuparem seus espaços no mercado de trabalho se quiserem sobreviver com alguma qualidade. Infelizmente, nossa cidade não tem condições de oferecer a todos nós a possibilidade de estudarem nas áreas de suas vocações para se aprimorarem em suas atividades. Pensando nisso, foi instituído o bolsa auxílio transporte aos que necessitem de ajuda da Prefeitura para irem estudar em faculdades da região.

O objetivo é claro: qualificando-se, essa moçada, que mora aqui em Taquaritinga, trará para cá o conhecimento que adquiriram em Araraquara, Matão, Jaboticabal e aplicarão aqui, de modo que, com o tempo, teremos uma população em condições de promover a mudança para melhor que tanto desejamos na evolução de nossa cidade. O empenho de dinheiro público nos estudos desta juventude dedicada é esperando o retorno que poderão prestar com seus préstimos aprimorados. Confiantes de que essa é a proposta do Poder Público, muitas pessoas vão em busca de seu sonho de fazer uma faculdade e conquistar um diploma, o que fazem sempre com algum sacrifício, já que, apesar da ajuda com as despesas de deslocamento que pode haver, sempre há outros custos a serem suportados pelos estudantes.

Mas, ultimamente, o que era um sonho, está virando um pesadelo. Com a pindaíba que a Prefeitura se encontra, na qual despesas das mais comezinhas tem ficado para depois, a Municipalidade não está honrando neste ano com seu compromisso com o bolsa auxílio transporte a nossos estudantes. Por causa disso, muitos estão pensando em parar de estudar, já que não podem suportar com as despesas de traslado além das que já gasta com mensalidade, material de apoio e outros gastos. Fora isso, os empreendedores que promovem essas viagens estão vivendo tempos de horror também, uma vez que, embora não queiram prejudicar seus clientes e estejam dispostos a ajudá-los a irem em busca de sua realização pessoal, não podem fazer isso às custas de seu sustento, já que vivem de seu trabalho, que é justamente transportar pessoas.

Não é uma despesa barata. Qualquer viagenzinha boba custa R$ 100 fácil, fácil. Com esse dinheiro, mal-e-mal você chega no trevo de Monte Alto. Multiplique essa despesa pelos dias de aula que um universitário tem em um mês e não é difícil concluir que não dá para um garoto de 18, 20 anos, começando sua vida profissional, conseguir bancar os gastos com transporte só com seu salário sem prejuízo do sustento de sua família. Isso é algo notório entre nós – tão notório que há décadas combinamos e instituímos por lei o bolsa auxílio transporte. Essa medida funcionou bem até que, infelizmente, nos últimos tempos, algo mudou.

Como vamos nos preocupar em lotar vans para levar nossos jovens para estudarem fora se nem estamos dando conta de dar o que comer para as crianças no orfanato da cidade? Como vamos dar dinheiro para as empresas de ônibus para levar nossos estudantes pelas cidades da região se nem para pagar em dia os salários do funcionalismo há dinheiro? Então, por mais solidário que se possa ser com os estudantes, o fato é que estamos diante de uma crise enorme, que está sangrando de morte a Prefeitura, e a inadimplência do bolsa auxílio transporte é apenas uma pequena ferida a mais em um corpo purulento.

Não se nega que há mesmo uma urgência em resolver esse drama de nossos universitários e das empresas de transporte que os atendem. Mas há outras demandas que exigem mais atenção e solução mais rápida. É com grande pesar que considero que os jovens estudantes taquaritinguenses devem considerar arregaçar as mangas para encontrarem uma solução na qual não dependam da Prefeitura para resolver seus problemas ou então deixem em suspenso ou até mesmo abandonem seu sonho de ter um diploma.

O que não se pode ignorar é que, pelo menos, a Prefeitura tem dispensado um tratamento igualitário e justo a todos os cidadãos. Não se tem feito nada em prol dos funcionários públicos, como também não tem sido feito nada em prol das entidades benemerentes, nada se tem feito nada em favor das crianças abrigadas na Casa Abrigo e não tem sido feito em favor também dos estudantes universitários que precisam do bolsa auxílio transporte. Reconheçamos esse aparente esforço de deixar na miséria e na penúria todo mundo da cidade de forma equânime e sem distinção. Mas, no fim, fica a pergunta: se a Prefeitura não tem feito nada para ninguém, para quem está sendo o que Prefeitura está fazendo? Quem tiver a resposta, cartas à redação deste jornal.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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