Artigo: Desculpas: acertamos os números; erramos o diagnóstico…

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Por: Gustavo Girotto* e Raphael Anselmo**

Um dos grandes desafios, dos articulistas, é pedir desculpas aos leitores. Não erramos na análise passada da conjuntura, mas cometemos um claro equívoco na projeção de cenário futuro. Os números de Paulo Delgado, em termos de gestão, eram piores do que o do atual prefeito Vanderlei Mársico. Nesse ponto acertamos. Todavia, erramos ao não avaliar uma questão: o perfil e o fator reeleição.

Hoje seremos Ombudsman de nós mesmos, que é um cargo presente em jornais e empresas de mídia, responsável por receber e investigar as queixas e críticas dos leitores ou consumidores em relação ao conteúdo produzido por essas instituições.

A atual administração de Taquaritinga virou um espelho trincado à lá João Doria. Fotografa bem, expõe medianamente na Rádio Canal Um FM seus feitos, mas entrega precariamente. Mársico se acha uma espécie de demiurgo, mas não passa de um timoneiro de pequena fragata em direção das rochas que, sem bússola, – anda velejando somente com sua arcaica intuição.

O descumprimento do Termo de Convênio de Cooperação à Assistência Integral à Saúde-SUS, por parte da Prefeitura Municipal de Taquaritinga, que não repassou os valores do Ministério da Saúde relativos aos serviços prestados pela Santa Casa, é grave. Além disso, há falta de remédios, problemas em escolas, salários atrasados e suspensão de coleta de lixo hospitalar.

O caldo só não entorna porque há um Legislativo leniente – e suas razões, só Deus, Alá, Buda,  Brahama ou Arquiteto do Universo sabe. Não cabe ao vereador fiscalizar o Executivo e representar vários setores da sociedade? Então…

A série histórica do censo pode nos mostrar que a política taquaritinguense se mantém estagnada no tempo – é um relógio em sentido anti-horário.

Ao compararmos a expansão populacional no período de 10 ou 20 anos, é possível avaliar se a cidade vem se industrializando, criando emprego e renda, e crescendo; ou se está estagnada. Desde a redemocratização, politicamente, os anos 90 foram a década de aceleração e crescimento.

De acordo com o Censo de 1990, Taquaritinga contava com 45.839 habitantes. Em 2000 cresceu 14%, foi para 52.065 – acompanhou a média das cidades da região; Araraquara cresceu 12%, Matão 17%, Jaboticabal 16% e Monte Alto 12%. Em um dos períodos mais conturbados da economia brasileira, Taquaritinga manteve-se na proa. Afinal, possuía algumas grandes empresas e cooperativas na cidade – Superagro, Coplana, Peixe, Royal Citrus, etc.

Já nos anos 2000, uma das décadas economicamente mais prosperas do país, Taquaritinga simplesmente parou no tempo. As indústrias se foram, a renda e emprego caíram e, em 21 anos (2000-2021), a população cresceu apenas 11%, passando de 52.065 para 57.547 residentes – somando apenas 5.482.

A média das cidades citadas, anteriormente, foi de 14%, com destaque positivo para Araraquara, que sob a égide de Edinho Silva (PT) com três mandatos e Marcelo Barbieri (MDB) com dois mandatos, em 21 anos, cresceu 32% – 58.071 pessoas, ou seja, mais que uma Taquaritinga.

Desde os anos 2000, a cidade experimenta um modelo de cortina de fumaça, que sobrevive de propagandas políticas, e nada mais – até virou assunto no Blog de Marcelo Tas em 2009, quando Delgado fazia placas se gabando da inauguração de plantio de gramas nos canteiros da cidade.

A grande indústria política, exalando fumaça por suas chaminés, está mais tóxica do que nunca, sufocando a população – e todo mundo conhece alguém que saiu da cidade em busca de melhores oportunidades. Claro, há defensores, mas são pagos – reparem.

Uma das asserções, aos que vos escrevem, é a seguinte: eles não vivem o dia a dia da cidade. É fato, não vamos aprofundar os motivos, mas olhar aptidões: interpretamos números e cenários, tanto que os artigos às vésperas da eleição, foram amplamente elogiados pela atual base governista. Esse será uma exceção, caso não, passa a ser uma surpresa.

As festividades de fim de ano, tendo o cover de um arranjador americano que faleceu em 2002, cujo auge foi nos anos 60 e 70, clarifica a mentalidade de políticas públicas que estão sendo praticadas.

O contexto é ruim e, a saída do imbróglio, pede ousadia. Há muitos conterrâneos com ideias novas, estudo em políticas públicas modernas, de todos campos ideológicos, mas que não conseguem quebrar esse núcleo duro da política arcaica taquaritinguense.

Por fim, não significa que Delgado seria melhor que Mársico. A verdade é que ambos ficaram ultrapassados. Só que atenção: a política dominante no Brasil é um grande negócio de famílias e, os filhos, são colocados como a “tábua da salvação” – uma expressão antiga que faz lembrar de naufrágios quando os navios ainda eram feitos de madeira.

Na prática, ou Taquaritinga busca uma figura alinhada com as transformações do mundo, ou internaliza o Barão de Itararé: de onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo. Mas também: não vivemos o dia a dia da cidade – a escolha é de vocês. Da nossa parte, só queremos pedir desculpas (…)

*Gustavo Girotto é jornalista.

**Raphael Anselmo é economista.

***Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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