Artigo: Coquetel Molotov

Compartilhe esta notícia:

Por: Rodrigo Segantini*

Todo mundo sabe ou tem ideia do que é um coquetel molotov. Trata-se de uma garrafa com combustível dentro, tampada por um pedaço de pano no qual é colocado fogo antes de ser arremessada, de modo que exploda e cause algum foco incendiário contra o pretenso alvo. O que pouca gente sabe é porque esse artefato se chama coquetel molotov.

Seu nome nos leva a acreditar que se trata de uma invenção russa. Na verdade, não: é finlandesa. Aproveitando a política expansionista da Alemanha hitlerista, a União Soviética resolveu fazer a mesma coisa e tentou invadir a Finlândia. Para minar a resistência do povo, os russos bombardeavam o território que pretendiam ocupar, assim como fizeram com a Ucrânia em tempos atuais. Quando os outros países souberam disso, pressionaram Stalin questionando a respeito e seu ministro das relações exteriores, chamado Viatcheslav Molotov, disse que a União Soviética não estava lançando bombas de seus aviões que sobrevoavam a Finlândia, mas mantimentos e itens de primeira necessidade, para suprir a carência do povo, que estaria à penúria pela incompetência do governo local.

Em razão da resposta mentirosa passada à comunidade internacional por Molotov, os finlandeses criaram as tais bombas caseiras que conhecemos e que até hoje são utilizadas em guerrilhas urbanas e deram o nome dele como um singelo lembrete nefasto de sua declaração sobre a “ajuda bombástica” que a União Soviética estaria prestando aos finlandeses. O povo da Finlândia se organizou e, a partir de ações rápidas e populares, utilizando-se sobretudo de coquetéis molotov lançados dentro de tanques de guerra e carros militares que patrulhavam as fronteiras entre os dois países ou ousavam cruzar essa linha, conseguiram refutar os avanços dos inimigos.

Desde então, sempre que alguém quer dizer de manobras contra adversários em que foi usada alguma estratégia menos elaborada, mas nem por isso menos inteligente e que faz com que inimigo tenha de engolir o veneno que ele mesmo preparou, é dito que foi lançado um coquetel molotov. Pois bem: o Tenente Lourençano lançou um coquetel molotov contra Vanderlei Mársico.

Ao pedir licença de seu mandato como vereador, Lourençano deu espaço para que seu suplente assuma assento no Legislativo. No caso, quem ocupará esse espaço será Beto Girotto, que tem se notabilizado como o maior adversário político atualmente do prefeito. Todo mundo sabe das contendas entre ambos e, em algumas oportunidades em que eles se encontraram, houve sincero temor entre os presentes que Mársico e Girotto ou partissem para as vias de fato ou que um dos dois sucumbisse fulminantemente por um piripaque nervoso.

Durante o tempo em que foi presidente da Câmara de Vereadores, Lourençano não se esforçou tanto para promover um ambiente de camaradagem com a atual gestão da Prefeitura, embora haja notícias que não tenha deixado de frequentar o gabinete do prefeito. Afinal, quem não se lembra de sua denúncia no microfone do noticiário radiofônico de Auro Ferreira, em que disse ter recebido uma proposta de propina de um candidato a deputado? O que tinha tudo para se tornar um escândalo pode ter acabado em nada – porém, como sabemos, quem bate se esquece, mas quem apanha se lembra para sempre.

Sem a caneta na mão e sem conseguir pautar os trabalhos do Legislativo, Lourençano bem que tentou sumir no meio de seus colegas no plenário, evitando polêmicas ou chamar muita a atenção. Quis o destino, no entanto, colocá-lo de volta na linha de frente da artilharia contra o prefeito ao, mesmo que sem querer, fazer explodir no colo de Vanderlei a chegada de Beto Girotto de volta à vereança, algo que promete realmente causar um incêndio de grandes proporções.

Embora hoje estejam em posições diametralmente opostas, não custa lembrar que Beto Girotto e Vanderlei Mársico já foram grandes aliados. Durante a gestão do prefeito Paulinho Delgado, quando Mársico e Girotto estavam juntos como vereadores na Câmara Municipal, Beto se sentia muito à vontade para fazer ecoar suas reivindicações e cobranças não apenas na tribuna do Legislativo, mas também nos microfones da rádio de Vanderlei, que apoiava a iniciativa do aliado. Evidentemente, Beto Girotto tem luz própria e conquistou com seu trabalho, mas, verdade seja dita, o espaço que Mársico lhe proporcionou com edil mais experiente à época e como dono da rádio fez com que Beto brilhasse ainda mais.

Hoje em dia, Beto Girotto segue brilhando, mas agora como um coquetel molotov aceso, prestes a explodir. Vanderlei Mársico precisa tomar cuidado. Da amizade de outrora, não restaram sequer os caquinhos.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

 

Compartilhe esta notícia: