Crônica: Educar, ensinar e doutrinar: o real significado destes vocábulos

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Por: Sérgio Sant’Anna*

“Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.” (Apocalipse: 3; 15-16)

Não há como apropriarmo-nos do tema sem que a submersão diante dos vocábulos aconteça. O que falta para a sociedade hoje é dedicar-se um pouco mais à leitura; não esta, passiva, acomodada, acovardada, que concorda com tudo, todavia aquela que retira da zona de conforto e faz pensar. Aquela em que Bauman orientou e insistiu em suas obras. É por isso que utilizo a etimologia para matizar o que vem sendo difundido de maneira errônea e absurda; como dizem os jovens alunos: “É preciso desenhar!”.

A palavra educar vem do latim educare, por sua vez ligada a educere, verbo composto do prefixo ex (fora) + ducere (conduzir, levar), e significa literalmente “conduzir para fora”, ou seja, preparar o indivíduo para o mundo. Educar, segundo os mais importantes dicionários brasileiros é “formar a inteligência, o coração e o espírito”. Receber o ensino e o conhecimento pode dar a uma pessoa a capacidade de desenvolver e até absorver diversas atividades, conduzindo-a a realização profissional e também pessoal, porém o caráter pessoal associado à Ética, a Moral e aos bons costumes demonstrar-se-á através das ações se recebido e praticado a boa educação. Na interpretação do professor Rubem Alves, “educar não é ensinar respostas, educar é ensinar a pensar”.  Diante destes sinônimos e contextualizações do termo apresentado, apropria-se da conclusão: Família, Escola e Sociedade possuem essa tarefa. Pais, responsáveis e professores são elementos vitais quando especificamos o vocábulo Educar. A questão de estar exposto com letra maiúscula é a da responsabilidade conferida à palavra.

Ensinar deriva da palavra ensignar.  Ensinar é repassar (a alguém) ensinamentos sobre (algo) ou sobre como fazer (algo); lecionar. 1.1. p. ext. transmitir experiência prática a; instruir (alguém) por meio de exemplos; 1.2. tornar (algo) conhecido, familiar (a alguém); fazer ficar sabendo; 1.3. dar lições a, instruir; 1.4. mostrar a alguém as consequências ruins de seus atos; 2. mostrar com precisão, indicar. O paradigma é o melhor ensinamento, porém não posso me furtar de estimular o discente (aluno) a pensar de maneira livre, longe das amarras preconceituosas, misóginas, intolerantes e abusivas e o distancia do exercício de humanidade.   Além disso, o professor trabalha com a difusão do conhecimento específico destinado a cada área de ensino, sejam elas: Matemática e suas Tecnologias, Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e Ciências Humanas. Essas grandes áreas carregam a disseminação de um trabalho amparado na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), além da sua inserção na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que terá a tarefa de uniformizar o ensino brasileiro. 

O professor não se furta ao ensino, pelo contrário, soma à sua difusão elementos que o tornam agradável, palatável, fácil de ser digerido pelo discente. Alicerçando-o na profissionalização, na luta pelas vagas universitárias, porém, principalmente, na construção de cidadãos fraternos, gentis, sabedores de seus direitos e deveres, comprometidos com sua evolução e, também, dos demais cidadãos. Ao contrário do que muitos arquitetam e disseminam o professor é um cidadão político como qualquer outro, ou seja, ser político significa “aquele que opina”,   conservando o seu direito estabelecido pela Constituição em seu Artigo 206, todavia este faz com que o docente apresente versões, pluralidade de opiniões, dados que façam com que o discente saia da gaiola, esta não elaborada pelos professores, e sim acovardada, punitiva e restritiva, despejada como aviões de agrotóxicos pelo dogmatismo impensado, colocada na conta do professor de maneira ignóbil, suja e populista.

P.S.: Você pode estar se perguntando onde está o termo “doutrinar”? No meu texto não aparece, pois a minha intenção, assim como os colegas professores, é a de exercitar o pensar; e não impor aquilo que deve ser lido, cantado ou filmado. As palavras tem peso, poder, portanto palavras negativas aqui não se significam, apenas exacerbam o caráter maléfico do ser humano.

* Sérgio Sant’Anna é Professor de Língua Portuguesa do Anglo e COC Professor de Redação da Rede Adventista e Jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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