Artigo: Sejamos úteis

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Por: Rodrigo Segantini*

Às vésperas do dia das eleições, quando teremos que escolher dentre os candidatos que se apresentam a quem daremos nossos votos para deputado estadual, deputado federal, senador, governador e presidente da república. Neste momento, em que somos chamados a participar da seleção de nossos representantes nos órgãos de direção de nossa nação, muitos se perguntam qual é a utilidade de nos envolvermos neste processo, já que, aparentemente são sempre os mesmos ou que, por outro lado, parece que nenhum dos proponentes merecem nossa confiança.

A alternativa a isso seria que não participássemos do processo eleitoral, que não fôssemos convocados a votar. Alguém escolheria os governantes por nós, um sujeito assumiria o poder por algum meio em que nossa opinião sequer fosse levada em conta. Seria como uma ditadura, em que um líder se impõe, fica nesta posição por quanto tempo quiser e só sai após delegá-lo ou transferi-lo a outrem que designar ou escolher. Sua vontade e prevaleceria sobre tudo o mais, já que não haveria alguém a quem devesse prestar contas e ninguém ousaria afrontá-lo. Certamente, ninguém merece tanta autoridade.

Por isso, o processo de escolha de representantes por meio de uma seleção envolvendo a manifestação dos interessados parece ser o mais próximo do adequado. A utilidade do voto está clara: é ele que materializa justamente a opção feita pelos eleitores envolvidos. O que não está claro para mim é porque há pessoas entre nós que subestimam seu valor.

Todo voto conta e todos votos são iguais. O voto do rico, o voto do pobre; o voto do homem, o voto da mulher; o voto do descendente de imigrantes europeus ou de africanos escravizados, o voto de descendentes dos povos originários. Dentre aqueles que podem ser eleitores, todos são iguais. Essa é a beleza da democracia. É o momento em que ninguém é maior do que outro.

No entanto, isso não quer dizer que os eleitos devem considerar que todos nós somos iguais. Embora nossos votos sejam iguais, nós não somos iguais. O empreendedor precisa de financiamento para fazer seu negócio prosperar e se desenvolver, a mãe precisa de vaga na escola para seus filhos, o paciente precisa de ter seu tratamento de saúde garantido, o motorista precisa que as vias públicas estejam íntegras e em condições de uso, o atleta e o artista precisam de locais para desempenhar suas atividades: todos precisamos e dependemos dos serviços públicos, cada um de nós a sua maneira. Não somos iguais em nossas necessidades, mas todos precisamos do governo.

Por isso, embora seja muito importante votarmos, é muito importante sabermos que devemos escolher em quem votar. É aí que está a utilidade do voto. Um voto útil é aquele que depositamos em favor de quem será capaz de defender nossos interesses, segundo nossas necessidades, afim de que o governo e os governantes façam aquilo que esperamos para que sejamos atendidos.

Nada mais triste do que uma esperança morta. Participar do processo eleitoral como eleitores, como alguém que se dispõe a votar, é um ato que se presta a reavivar nossa esperança, nossa crença de que dá para termos um futuro melhor, de que há pessoas que podem ser capazes de dirigir os rumos de nossa gente para fazê-la prosperar. Recusar-se a participar do processo eleitoral, não se dispor a votar, anular o voto ou votar em branco claramente mostra uma esperança morta, uma descrença no futuro e uma desconfiança em nossa comunidade.

Um voto útil é um voto de esperança, é um voto de propósito, é um gesto de esperança, um ato cujo único compromisso é com o futuro de todos nós, com o desejo de algo melhor para todo mundo. Um voto útil é aquele que é dado sem medo, sem coação, que não foi vendido e que não é dado como pagamento. Um voto útil é o que tem utilidade, é aquele destinado a uma finalidade legítima. O contrário de voto útil não é voto inútil, mas algo muito pior: aquele voto que não se presta à utilidade esperada é, na verdade, uma submissão voluntária à mesquinharia, à corrupção e à morte do caráter e da própria liberdade.

Dê utilidade a seu voto. Que seu voto seja útil. Façamos por onde garantir um futuro melhor para todos nós. Compareçamos às urnas e exerçamos nossa cidadania como só em um ambiente democrático é possível fazermos.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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