Artigo: O perigoso estigma dos grupos de riscos da Monkeypox

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Por: Arthur Micheloni*

A Varíola dos macacos (monkeypox) está se tornando uma doença cada vez mais frequente. Até a data desse artigo, já são mais de 30 mil casos confirmados no mundo, sendo cerca de 2500 casos no brasil, que aliás, já registrou a primeira morte pelo vírus.

No fim de julho, a OMS (Organização Mundial de Saúde) determinou que o surto da doença é uma emergência de saúde pública internacional e recomendou que homens que fazem sexo com homens (que até o momento representava mais de 95% dos pacientes com a doença), reduzissem o número de parceiros sexuais. A partir daí alguns veículos de comunicação declararam, de forma errônea, que a infecção para com o vírus somente é feita a partir de sexo entre dois homens, assim, gerando protestos da comunidade LGBTQIA+.

O receio da comunidade não é infundado. Durante a década de 1980 a comunidade foi duramente estigmatizada durante o começo da pandemia da aids. Utilizando o mesmo pretexto de orientar esses grupos, que também continham a maioria dos casos no início da aids, as organizações de saúde fizeram vários alertas para essa comunidade, contribuindo para aumentar a vulnerabilidade dessas pessoas já extremamente vulneráveis por conta do preconceito.

Como já imaginado, o resultado das campanhas contra o HIV voltado extremamente para o público LGBTQIA+, geraram preconceito, afastando as pessoas dessa comunidade dos serviços de saúde e criando a falsa sensação de que quem não pertencia a esses grupos, como homens heterossexuais e mulheres estavam a salvos.

Não há como deslegitimar a preocupação das comunidades LGBTQIA+, até porque, na recente história, tivemos outros exemplos de anúncios pouco cuidadosos que geraram estigmas, como na época da epidemia de ebola, onde comunidades africanas sofreram descriminação e na época de Sars e na pandemia de covid-19, a comunidade asiática sofreram ataques.

Por um lado, sabemos a importância de fornecer toda a informação encontrada sobre uma doença, porém, por outro lado, não podemos subestimar o risco de estigma (principalmente com uma comunidade que muito sofre com preconceito) e reduzi-lo a um medo irrelevante, ainda mais se tratando de uma doença infectocontagiosa que certamente não é restrita a determinado grupo.

Os veículos de comunicação precisam tomar MUITO cuidado com a forma de fazer recomendações, principalmente as que podem ser mal interpretadas ajudando a aumentar essa vulnerabilidade de grupos sociais que já muito sofrem com o preconceito e a homofobia. Devemos ser responsáveis e evitar informações que contribuam para a estigmatização.

A própria fala do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, foi seguida de recomendações a respeito do risco de estigma e descriminalização que foram ignoradas pela maioria dos veículos de imprensa, que apenas se focaram na recomendação para redução do número de parceiros endereçada aos homens que fazem sexo com homens.

Que fique claro que qualquer pessoa, independente do sexo ou da sua orientação sexual, deve se cuidar pois pode estar sim, vulnerável e propensa a infecção da doença, bastando apenas fazer o contato próximo com pessoas infectadas pela enfermidade.

* Arthur Micheloni é Fisioterapeuta, pós-graduado em Osteopatia, Ortopedia e Traumatologia, pós-graduando em Fitoterapia, discente e adepto da Medicina Integrativa e graduando em Nutrição – e-mail: [email protected].

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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