Artigo: Muito a explicar

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Por: Rodrigo Segantini*

Que o vereador Tenente Lourençano está em confronto aberto com o prefeito Vanderlei Mársico, não é segredo para ninguém em Taquaritinga. Porém, em sua sanha de arrancar a goela do alcaide, o edil resolveu explodir os aliados de seu adversário também e tem promovido ataques a quem quer que esteja no entorno do Executivo municipal, ainda que sejam seus colegas no Legislativo.

O mais contundente atentado de Lourençano em sua saga foi a denúncia feita em um noticiário local acerca de um caso de corrupção que ele teria presenciado e ainda registrado em flagrante. Diz o vereador que, há algum tempo, foi chamado no gabinete do prefeito para participar de uma reunião com um agente público ligado a um político graúdo a fim de tratarem da tramitação do projeto de empréstimo para Taquaritinga para obras, o sujeito teria lhe oferecido propina para colaborar com o que lhe coubesse para que o contrato fosse fechado.

Tornou-se um escândalo. Como o vereador não deu nomes mas disse que tinha provas e que revelaria tudo em breve inclusive ao Ministério Público, todo mundo queria saber quem era o sujeito que ofereceu o suborno e se teria oferecido a outros vereadores também. Porque a denúncia é muito séria, mas foi feita pela metade, já que só foi feita por Lourençano para se defender de uma acusação contra si, a respeito de que estaria cerceando o exercício da vereança pelos membros da base de apoio ao prefeito, quando, por exemplo, deixou de fazer reuniões presenciais quando ele próprio teria determinado que deveriam ser realizadas e trocou a chave de acesso ao prédio da Câmara sem avisar seus pares que se deslocaram para lá afim de participarem da sessão.

Pensando que teria atirado uma granada no colo daqueles que estão lhe atacando, Lourençano se esqueceu de algumas coisas que podem colocá-lo de volta no angu que quis preparar para seus adversários se engasgarem. Vamos por partes – e esclareço que essa é uma análise bastante fria e meramente interpretativa, que faço apenas para refletir a respeito da denúncia levada à público e para contextualizar a extensão do estrago causado.

Diz Lourençano na entrevista que deu a Auro Ferreira que os fatos que comportam a denúncia teriam ocorrido algum tempo atrás, quando foi chamado para comparecer no gabinete do prefeito – apesar de, na mesma narrativa, dizer que gabinete do prefeito não é lugar de vereador se reunir, mas sim na Câmara. Ora, se a fatídica reunião aconteceu há algum tempo, por que o nobre edil só trouxe os fatos à luz agora? Por que não o fez quando eles se deram? Por que ainda não levou o caso ao Ministério Público? Por que fazê-lo só agora?

Diz Lourençano que um agente público, servidor comissionado nos quadros do governo estadual lhe ofereceu propina. Lourençano, além de vereador, é dos quadros da Polícia Militar e sabe que a lei diz que a autoridade policial deve prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. O que ele narra caracteriza o crime de corrupção, previsto no art. 333, do Código Penal. Por que ele não deu voz de prisão ao sujeito? Se entender que não se achava na condição de policial, ainda assim, o dispositivo da lei diz que qualquer um do povo pode prender quem esteja em flagrante delito. Então, a pergunta persiste: por que não deu voz de prisão ao sujeito que diz que lhe ofereceu propina?

Diz Lourençano que essa reunião com o sujeito que lhe ofereceu propina teria ocorrido no gabinete do prefeito, mas em momento em que Vanderlei Mársico não estava presente. Porém, ele disse isso em circunstância em que tratava na entrevista sobre a interferência do prefeito no Legislativo e criticava os vereadores de sua base de apoio na Câmara. Do jeito que ficou colocado, pareceu que o prefeito e os vereadores seus aliados poderiam estar envolvidos e até mancomunados com o corruptor. Afinal, neste contexto, por que falou sobre a possibilidade de corrupção na administração municipal?

Diz Lourençano que quem tentou lhe corromper seria pré-candidato a deputado estadual e que não daria seu nome porque esperaria o fim do prazo das convenções para lançamento das chapas partidárias para as eleições deste ano. Só que há dezenas de pessoas que se relacionam de alguma forma com Taquaritinga e com gente da cidade e que são pré-candidatos, alguns dos quais têm ligações com políticos de quatro costados. Sem dizer sobre a quem se referia, o vereador apontou o dedo para muita gente e deixou dúvidas sobre a reputação de várias pessoas. Teve até gente mandando vídeo em redes sociais se justificando para tentar se afastar desta polêmica. Oras, por que não foram dado nomes aos bois de uma vez? Por que escondê-los – ou melhor, “preservá-los”?

Tenente Lourençano tem muito a explicar – e a cidade inteira quer ouvir e saber o que ele tem a dizer. Porém, ele pode ter atirado uma granada em seus adversários, mas se esquecido de lançá-la mais longe do que o necessário para não se machucar também.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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