Zelensky: herói ou irresponsável

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Por: Luís Bassoli*

Tivemos poucas informações sobre o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Sabemos que tem 44 anos, é um ex-comediante, fundou um partido sem ideologia, o “Servo do Povo”, com traços populistas, ajuntando diversos apoiadores, com os temas, genéricos, de liberalismo econômico, meritocracia, combate à corrupção, desenvolvimento social, pró-ocidente e anti-rússia – e explorou a ideia de não ser um político profissional, no estilo “contra tudo que está aí”. Com bom marketing pessoal, foi eleito presidente, com mais de 70% do votos.

Além disso, sabemos pouco, há elogios e críticas, inclusive de denúncia de ter empresas of-shore.

Bateu de frente com o presidente Vladimir Putin, esse conhecemos bem: ex-agente da KGB comunista, se aproximou de Boris Ieltsin no fim da URSS, e governa a Rússia com mão de ferro, há 20 anos, pouco afeito à liberdade de expressão, com políticas homofóbicas e machistas.

Mas o tema do embate é por demais sensível à Moscou: o pedido da Ucrânia para ingressar na OTAN. Diferentemente da União Europeia, a OTAN é uma organização militar, resquício da Guerra Fria, vista pelo Kremlin com uma afronta, uma ameaça à própria existência da Rússia.

Bom, quase duas semanas após o início da invasão das tropas russas, está cada vez mais evidente a incomensurável supremacia militar russa frente à Ucrânia, os avanços são ora rápidos, ora lentos, mas constantes, não se tem notícia de nenhuma batalha vencida pelo exército ucraniano, que, no máximo, atrasam o avanço dos invasores. Mas os russos seguem conquistando terrenos, do Sul e do Leste, e estão nos arredores da capital Kiev – analistas sustentam que a Rússia não utilizou nem 10% do seu aparato bélico, enquanto a destruição das forças armadas da Ucrânia tem sido devastadora.

Pois bem. O presidente Zelensky determinou a distribuição de armas à população civil, proibiu todos os cidadãos, homens, de 18 a 60 anos, de deixar o país, mesmo que não tenha nenhuma instrução militar, grupos pró-governo estariam dando lições básicas de guerrilha, como confeccionar coquetéis molotovs – medidas inócuas para combater os experientes, preparados e bem armados soldados russos.

Porém, tal atitude tem sido saudada por alguns meios de comunicação ocidentais como “ato de heroísmo”.

Será mesmo?

Hitler, em meados de 1945, diante da derrota irreversível, convocou a Juventude Hitlerista, grupamentos formados por garotos de 14, 15 anos, chamando-os de heróis a defender Berlim . A história mostrou que em vez de heroísmo, foi um infanticídio; o Japão de Hiroito persistiu meses depois da queda do III Reich, sem armas e munições, o Imperador conclamou o que restou da população (crianças, mulheres e idosos) a se armar de paus e pedras para defender a ilha da invasão americana. Heroísmo ou insanidade? Foi preciso não um, mas dois ataques nucleares para, uma semana depois, o Japão se render.

A transmutação do ex-comediante populista em herói é uma boa peça de marketing, mas custará o sangue de incontáveis mártires, jovens e idosos, civis, a jogar garrafas de gasolina e dar tiros de revólver em veículos cuja blindagem suporta tiro de bazuca.

Estranha guerra.

* Luís Bassoli é advogado e ex-presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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