Artigo: Pelo fim das filas no UPA

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Por: Rodrigo Segantini*

Filas em unidades de saúde, convenhamos, sempre houve. Como o número de médicos é menor do que o suficiente para a demanda de atendimentos, sempre há alguém que tenha a ideia de chegar mais cedo para ser atendido logo, para ser atendido primeiro. Daí, outro tem a mesma ideia e outro também…. até que se forma uma fila de pessoas que tiveram a ideia de chegar cedo no postinho para garantir que será atendido. Nesta lógica, quando o sujeito chega às 06h da manhã e vê que já tem gente na tal fila, na próxima vez ele busca chegar às 05h30; desta forma, aquele que vê o sujeito chegar às 05h30, da próxima vez chegará às 05h… e por aí vai. Fila na saúde nunca vai acabar.

Não são estas filas que estão preocupando nossa gente. O que tem causado muita apreensão na cidade é a fila para atendimento na UPA Wilson Rodrigues. E o problema nem tem sido o atendimento na UPA, porque o pessoal dedicado se esforça muito lá para atender a população. O problema tem sido quem está na fila ou as razões que leva alguém a ficar na fila. A resposta para isso esbarra em um problema que há alguns meses parecia que caminhava para a solução: a covid-19.

A covid-19 é uma virose. Doenças causadas por vírus praticamente não têm tratamento para curá-las, com raríssimas exceções. Assim, a alternativa para combater uma enfermidade assim é a vacina. A vacina antecipa ao organismo os mecanismos de defesa imunológica para evitar o desenvolvimento das consequências da infecção pelo vírus. Porém, a vacinação só é eficiente se mais de 85% da população é efetivamente imunizada – o que significa, no caso da covid-19, que mais de 85% da população tenha recebido as três doses da vacina. Sequer estamos nem perto disso…

Sem que a população alcance esse índice de imunização, as pessoas ainda estão sujeitas a se infectarem, na medida que, embora os vacinados tenham alguma proteção contra o vírus, os não-vacinados ou que estão com esquema vacinal incompleto podem contribuir no desenvolvimento de alguma variante, que pode ou não ser mais maléfica que suas antecessoras. Por isso, ao contrário do que pensa o pessoal anti-vacina, que prega algo parecido com “meu corpo, minhas regras”, a vacinação é uma medida de saúde pública coletiva e não uma decisão individual.

Passados dois anos desde o começo da pandemia, sabemos que a infecção de covid-19 se divide em duas fases: a primeira é a fase viral, que reúne sintomas comuns em viroses, como dor no corpo, dor de cabeça, coriza, mal estar e febre. No entanto, conforme a doença avança, no sétimo dia, pode ter início a fase inflamatória, com sintomas mais sérios e pode ser necessário o uso de corticoides para impedir a evolução para quadros mais graves. Quando estamos vacinados, caso sejamos infectados, nem sempre conseguimos evitar a fase viral, já que o vírus está em nosso organismo. Por isso, muita gente com os sintomas de virose está indo à UPA para saber se estão ou não com covid-19.

Para evitar a sobrecarga no sistema municipal de saúde, a Prefeitura montou um gripário, separando da rede os casos de síndromes respiratórias. Isso ajudou na eficiência no combate à covid-19, tanto no acompanhamento dos enfermos quanto na contenção da disseminação do vírus. Com o aparentemente arrefecimento da doença, o gripário foi fechado. Como era de se esperar, isso sobrecarregou o sistema e está causando filas desnecessária na UPA, misturando doentes por síndromes respiratórias com pessoas que vão a UPA por outros problemas.

Todo mundo tem reclamado das filas na UPA, cujo patrono foi um grande secretário municipal de saúde que em seu tempo modernizou a administração da rede municipal de atendimento. A UPA Wilson Rodrigues não merece ser responsabilizada por algo que excede sua responsabilidade. Mas, assim como Wilson Rodrigues lutou tanto e com muita criatividade para acabar com as filas no atendimento na saúde, é hora de os atuais gestores da saúde taquaritinguense terem a mesma ousadia dele para resolver esse problema. Abrir o griário de novo pode ser uma boa ideia.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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