Artigo: Si Vis Pacem, Para Bellum

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Por: Luís Bassoli*

  • O presidente bolsonaro, numa solenidade do Ministério da Defesa, no dia 1.º de setembro, citou a tradução do ditado em latim “si vis pacem para bellum”, dizendo que aqueles que querem paz, devem estar preparados para a guerra.
  • A frase, fora do contexto, é mais um devaneio da mente atormentada do golpista.
  • Analisemos:

Que Paz Seria Essa?

  • O presidente nunca quis paz, ao contrário, sempre trabalhou para a disseminação da violência, do ódio, do preconceito.
  • Podemos concluir que a “pax bolsonara” seria, na verdade, a impunidade dele e de sua família – quer que a Justiça lhe “deixe em paz” para continuar cometendo seus crimes, se valendo da corrupção estrutural que caracteriza sua carreira política.

Para Qual Guerra Ele Se Prepara?

  • O presidente declararia guerra contra quem? Quem seria o inimigo e quem são seus aliados?

Supostos Inimigos

  • Aparentemente, declararia guerra contra a Democracia, contra o Estado de Direito; os alvos iniciais seriam o Congresso Nacional e o STF; depois, as sedes dos Governos Estaduais e os Tribunais de Justiça; em seguida, os meios de comunicação, sindicatos, universidades. Quem mais?

Possíveis Aliados

  • Não há sinais de que as Forças Armadas, como Instituição, iria aderir à aventura golpista; não dá pra imaginar a Infantaria do Exército abrindo fogo contra civis ou a Artilharia cercando o Palácio dos Bandeirantes em São Paulo; nem os caças da FAB bombardeando o STF e o Congresso Nacional; e tampouco os navios da Marinha estacionados na Baía da Guanabara, com seus canhões apontados para o centro do Rio de Janeiro.
  • Cerrariam fileiras ao presidente golpista seus seguidores fanáticos,

as milícias de Rio das Pedras, os bandos armados dos traficantes cariocas, algumas hostes de capangas dos ruralistas, além de desertores das polícias militares.

Reação Internacional

  • Imaginando que bolsonaro instaurasse uma ditadura, qual seria a repercussão mundo afora?
  • A Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Mercosul possuem a Cláusula Democrática, que veta a quebra da ordem democrática de seus membros.
  • A ONU segue a mesma linha: normalmente, a Assembleia Geral impõe sansões econômicas às ditaduras e, não raro, o Conselho de Segurança aprova a intervenção, armada, para se restabelecer a Democracia, como aconteceu no Afeganistão e, mais recentemente, na Líbia.

Reconhecimento de Governos Estrangeiros

  • Também num exercício de imaginação, qual país reconheceria a república bolsonarista? Talvez a Hungria, do primeiro-ministro Viktor Orbán, tido como neonazista. Ou Guiné-Bissau, do presidente Umaro Embaló, o “bolsonaro africano”.

Modus Operandi da Ditadura Bolsonara

  • Por fim, haveríamos de conjecturar como seria o cotidiano do improvável bolsonaristão.
  • Quando a rapaziada lotar a Avenida Paulista em protesto contra o golpe, os tanques fumacentos dos Fuzileiros Navais avançariam sobre a multidão, numa reedição do Massacre da Praça da Paz Celestial, na China de 1989?
  • Os ministros do Supremo, os deputados, senadores e governadores oposicionistas seriam presos? Jornalistas, estudantes, religiosos e militantes da resistência seriam torturados e mortos?

Conclusão

  • A frase em latim poderia ter uma versão mais apropriada:

“Civis agem e param o bélico!”

* Luís Bassoli é advogado e ex-presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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