Artigo: Pai

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Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*          

Sempre quando o “Dia dos Pais” se aproximava, lembrava-me da música do cantor e compositor Fábio Júnior feita ao seu pai. Esta que foi cantada pelo filho do Fábio, no antigo “Domingão do Faustão” (parece que faz décadas que o Fausto saiu do ar…) em homenagem ao cantor (pai). Sim, o Fiuk, terceiro lugar no “Big Brother Brasil”. Que milhões de brasileiros assistiram, porém tinham medo de confirmarem sua audiência ao “1984” global. Exato. Aquele em que a arretada Juliete sagrou-se campeã. Eu até escrevi uma crônica neste periódico retratando a relação do reality com a obra de Orwell. Porém, não era sobre este assunto que gostaria de discorrer. Falava sobre a composição do “Don Juan”, ops, Fábio Júnior. Assim como esta composição sempre fez-me lembrar de meu pai, a poesia drummondiana – “Para sempre” – isso, aquela em que ele clama para que Deus não permita que as mães morram, vem-me a figura materna – Dona Maria.

Este será o primeiro “Dia dos Pais”, que não conseguirei cumprimentar e saudar o meu pai. Assim, também, ocorrerá com meu avô Willy que não receberá à visita dominical feita pelo meu pai. Gesto repetido desde que me entendo por gente (“Penso logo existo”). Sim, todos os domingos celebrados em homenagem aos pais estava lá, o meu pai, pronto para ir até à casa de seu patriarca e cumprimentá-lo. Esse gesto não será repetido para os meus familiares assim como para algumas dezenas de milhares de patriarcas vitimados pela covid-19. Um momento triste, trágico para inúmeras famílias. Um “Dia dos Pais” pautado pela tristeza.

Neste domingo lembrarei do último “Dia dos Pais” e ele me relatando sobre o medo que possuía da covid-19, que vira inúmeros amigos e ícones perderem à vida vitimados pela pandemia. Lembrarei dos nossos diálogos constantes, da sua preocupação diante da ingerência e imprudência deste Governo Federal e o medo da adoção de um golpe a fim de se manter no poder. Lembrarei dos livros lidos, dos textos citados e das palavras-amiga citados por ele. Mesmo assim parece ser mentira que ele nos deixou. Lutou até os últimos instantes, todavia não resistiu. Partiu sem a despedida necessária. Não reuniu aos amigos como desejara. Saiu de cena sem as homenagens que ficáramos devendo. Mas, é assim…a vida quebra protocolos, modifica capítulos, ensurdece diálogos, determina o fim.

A sua imagem é límpida em minha mente, não há um dia em que sua presença não é sentida, jamais o esquecerei…leio os seus textos e vejo que havia histórias a serem concluídas, narrações a serem incrementadas; tu, pai, buscavas suas personagens em meio a simplicidade citadina, diante da riqueza cultural popular. Isso se conclui quando suas crônicas são lidas e difundidas. É o coloquial se apresentando como o mais importante dos textos. Era assim que encarava essas construções. Havia aí uma mistura de Millôr Fernandes e Rubem Braga. Humor e lirismo caminhavam de maneira conjunta. A crônica não poderia parar…

Esse “Dia dos Pais” não será o mesmo, porém estaremos aqui prontos a não deixar esse seu lado amoroso desaparecer. Suas memórias continuarão vivas, as lembranças jamais se apagarão e que neste lugar em que tu te encontras a luz seja abundante e que ao lado dos demais tu possas sempre estar em paz. FELIZ DIA DOS PAIS a você, aos que se foram e aos que por esta terra habitam. Pai, tu permanecerás em nossos corações!

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!

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