Artigo: Novo Testamento – Cristo dá seu recado

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Por: Luís Bassoli*

“Amarás a Deus de todo teu coração e tua alma. Este é o primeiro mandamento. E o segundo é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. (Mateus, 22: 34-40).

√ Peço licença para fazer uma análise, interpretativa, à luz do Direito e da Sociologia, dos novos mandamentos anunciados por Jesus Cristo, há mais de 2000 anos.

  1. Quando o Mestre determina “amar a Deus acima de tudo”, Ele retira a importância das coisas e dos objetos, dos produtos fabricados e comercializados – e dos serviços oferecidos. O foco maior é Deus, e Deus não se compra, não é palpável nem visível. Independentemente da religião (e mesmo no agnosticismo), Deus não é matéria: é o Todo Poderoso, o Amor, a Vida, a Natureza, mas não está à venda, não é um produto.
  2. Ao determinar “amar ao próximo como a ti mesmo”, o Mestre fere outro cerne do capitalismo: o lucro.

√ Explico: o sistema capitalista se baseia em duas principais pilastras:

  1. i) Fabricar produtos ou oferecer serviços e convencer as pessoas (os consumidores) de que aquilo e isso são imprescindíveis, extremamente necessários, a ponto de se buscar a posse da coisa ou o acesso ao serviço a todo e qualquer custo;
  2. ii) Obter lucro, todos os que produzem coisas ou oferecem serviços têm que, ao final da venda ou da prestação do serviço, auferir um lucro – e quanto maior, maior o sucesso do negócio, maior o êxito do dono do meio de produção.

√ Assim, as diretrizes cristãs armaram uma “arapuca” ao capitalismo. Vejamos:

  • Se o mais importante é amar a Deus (Ser imaterial), não se deve amar ao iPhone de última geração, nem ao carro novo, nem à hospedagem no resort de luxo, nem à viagem a Miami. Essas coisas são imprescindíveis no capitalismo; já no cristianismo, são coisas superficiais, supérfluas, descartáveis.
  • Ao determinar que se deva amar ao próximo como a si mesmo, Cristo ensina que havemos de tratar os outros como queremos por eles ser tratados; é como se cada um fosse nós mesmos – ele, você, eu somos a “mesma pessoa”. Isso gera um paradoxo, intransponível, ao capitalismo: numa transação comercial, você obteria lucro sobre você mesmo? Não faz sentido. Se amo o irmão como amo a mim, não irei tirar proveito dele, pois estaria, paradoxalmente, explorando a mim mesmo. Por séculos, a Igreja condenava qualquer tipo de lucro ao se comercializar um produto, que caracterizava usura.

√ Lembramos, ainda, que o único relato de Jesus agindo com violência, usando da força física, foi pra expulsar, da igreja, com um chicote em punho, os vendilhões, os exploradores, no que foi chamado de “Limpeza do Templo”. O Mestre quebrou tudo, jogou as moedas no chão, pôs os comerciantes/capitalistas pra correr. (Jo 2, 13-22).

√ Cristo também era contra acumular bens e amealhar riquezas – não juntou patrimônio, ao invés disso, mandou seus seguidores se desfazerem dos bens pessoas e dar o dinheiro aos pobres: “Depois, venha e siga-me”. (Lucas 18:18-30).

√ Não se pode falar que Jesus era “socialista”, óbvio, até porque as primeiras teorias socialistas surgiram cerca de 1700 anos depois Dele. Mas, certamente, se pode dizer que Cristo NÃO era capitalista. Quando se deparou com o capital, o dinheiro, não titubeou: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. (Marcos 12:13-17).

√ Fica a reflexão.

* Luís Bassoli é advogado e ex-presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).

**Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião de O Defensor!

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