Crônica: A mesma refeição – o cardápio insiste em se repetir

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Por: Sérgio Sant’Anna*

Costumo todas as terças-feiras cultuar algumas promoções difundidas pelos supermercados locais, bons supermercados, porém os preços parecem não cessar. Não diminuem. Medidas e medidas anunciadas, e nada. O déficit está no bolso do trabalhador, que ganhando os seus salários mínimos mal consegue se alimentar. Convenhamos: um salário mínimo para passar fome. Ou você come ou paga suas contas. Ah, não pode ficar doente, pois no SUS há o descaso e as filas quilométricas; no privado, mensalidades exorbitantes e um péssimo atendimento. É o Brasil do Brasil como anunciou uma ex-personagem do livro do George Orwell, ops, de um reality show que se ocupa do nome de um elemento essencial na trama escrita pelo escritor inglês.

Na tabela que aparece na tela, a carne mais barata é a tradicional e guerreira, carne moída, essa não dispenso. Compro mais um quilo, que se divide em dois saquinhos de meio quilo cada. Para este que vos escreve é suficiente. Até a próxima sexta-feira, caso este só inclua no cardápio esta exótica carne, “boi ralado” (ops, poderei ser processado pela expressão utilizada). Acrescentando batatas, rende muito mais…ela me alimenta bem, acaba saciando minha fome. Mas, há outras opções. Não aprecio o frango, todavia é a carne cujo preço está em queda. Tomates, verduras, a própria batata, a cebola alcançaram patamares inatingíveis, principalmente pela triste realidade a qual passam nossos irmãos do Rio Grande do Sul.

Costumo acompanhar a vida de outras pessoas que residem sozinhas, cuja cada refeição se deliciam ao produzi-las. Um talento. Gosto. Aptidão. Porém, para mim é mais uma aventura, aquela que a cada há que se decidir o menu e este me restringe às opções, seja pelo meu paladar reduzido, enjoado, e pelo preço dos produtos. A cozinha nunca foi meu lugar preferido nas casas em que morei, pelo contrário, fugia desse cômodo. Opto pela tranquilidade do quarto ou a funcionalidade literária do escritório. O silêncio me alimenta, a paciência dos objetos me atrai, o olhar fixo das letras dos livros me organiza, o seu cheiro me faz divagar. Inspiração…não sei.

Acessarei outros cardápios, procurarei por outros ingredientes, buscarei novos componentes alimentares, até por que já disse uma nutricionista minha amiga, que estou comendo mal. Essa minha azia, um pouco de refluxo não tem nada haver com a minha chegada aos cinquenta anos, contudo com o cardápio deveras inadequado. Boa refeição a todos!

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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