Crônica: A Semana Santa e a proposição da reflexão

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Por: Sérgio Sant’Anna*

Em meio a essa rivalidade exacerbada que enche as redes sociais e se derrama pelo mundo real, num misto de ódio e raiva angariados pelo desejo narcisista de ser o melhor, não só atrapalhou as relações pessoais como também estagnou o processo de amizade com o outro, com o diferente. Sabe aquela relação com um amigo novo na época de colégio, aquele que você se encanta, “nossa, esse veio de longe, possui outros costumes e deseja aprender”. Atitudes como essa, que vivenciei no passado parece a cada dia tornar-se mais difícil, talvez impossível pois as pessoas não desejam absorver aquilo que o outro se propõe a nos oferecer. A aceitar o diferente. Há uma voz unânime que soa pelos quatro cantos desse rincão chamado Brasil, que impede esse desejo harmônico, essa toada de felicidade. Ser feliz sozinho parece difícil, porém com o outro chegou ao impossível. Bauman já nos avisara em sua modernidade líquida dos perigos em entender que o efémero não existe, porém nos dedicamos aos compêndios de autoajuda e aos coachs e dançamos literalmente,

Entre brincadeiras e excertos acadêmicos construo esta crônica em meio à Semana Santa, aquela cujo silêncio era inquestionável na casa da Vó Vina e do Vô Francisco. Aquela semana cuja sexta-feira era santificada, portanto, o respeito, a tristeza, a oração eram elementos presentes do momento. Um misto de dor pela crucificação de Jesus Cristo, todavia a certeza que a alegria voltaria após a ressurreição do mesmo Cristo. Era tudo muito lindo, e até hoje inúmeras famílias contemplam esta data com fervor, com adoração, com a força e fé que a data religiosa exige.

Após meu momento de confissão na semana passada, aproveitei para refletir sobre algumas situações, e uma deles vem a ser metaforizada com a Semana Santa e mais o poeta Augusto dos Anjos adentra a essa elaboração, uma vez me contempla com frases impactantes e decisivas, assim como as reflexões deixas por Jesus Cristo através de seus apóstolos, amigos. E é sobre amizade que iniciei a minha tese. Cristo adentrou à cidade reverenciado, aclamado com ramos e hosanas num domingo pelo povo. Era Ele sim o Nosso Salvador, Aquele que estava ali para nos ensinar, nos alimentar, nos guiar, levar-nos à reflexão. Um Homem que só fez o bem. De repente, cinco dias depois ele era condenado à crucificação pelo próprio povo que o acolheu com hosanas e ramos. Está aí uma das passagens mais significativas da Bíblia. Um momento em que podemos verificar quão ingrato é o ser humano. Como dizia Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra” (lembrei-me agora da eleição de Putin na Rússia com 88%, uma insanidade diante daquele que se alimenta da guerra, da morte, do sangue de seu povo…). E quantas vezes não passamos por essa semelhança de situação, inúmeras vezes. Olhe ao seu entorno, reveja sua trajetória, amplie seus horizontes, traga à sua visão o holístico…A humanidade é ingrata. Porém acredito, ainda no ser humano. Somos capazes de nos transformarmos. Mesmo que ainda insista em mapear minha mente, um dos versos mais significativos da literatura mundial do genial escritor pré-modernista Augusto dos Anjos: “A mesma boca que te escarra é a que te beija”. Dolorido, nojento, para alguns, contudo um trecho para refletirmos durante esta importantíssima semana que ainda não chegou ao seu final.

Abril mostrará suas marcas a partir da próxima segunda-feira (01), Dia da Mentira, que possamos ser verdadeiros em nossas atitudes, que possamos realmente ser empáticos, que o amor vença e que possamos sim transformarmos o ser humano. Saia desse limbo, abrace mais, beije mais, ame mais, dê mais carinho ao outro; não seja egoísta, controle o seu narcisismo. Entregue-se ao puro e verdadeiro amor. Seja o semeador e cultivador do Amor.

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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