Artigo: O grito dos injustiçados

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Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna

Quando ganhei “Lima Barreto: triste fim de um visionário”, saltitei, enchi-me de alegria, fiquei eufórico. Como muitos já sabem, Lima Barreto é o meu escritor favorito. Principalmente pelo seu fazer literário, inatingível para muitos, pois poucos se debruçaram ao retrato fiel do suburbano no século passado como fez o glorioso pré-modernista. Literatura-Realidade.

Antes do escritor carioca, Castro Alves, Cruz e Sousa e Maria Firmina dos Reis ousaram em defender as minorias, especificamente o negro, porém apenas o poeta baiano consagrou-se em vida com sua poesia condoreira. Cruz e Sousa e Maria Firmina dos Reis tiveram suas obras engajadas contempladas, com as reverências que mereciam, apenas no século XX. Maria Firmina dos Reis – exclusivamente neste século XXI com sua obra estupenda, “Úrsula”. Uma escritora maranhense que figurou entre os escritores românticos da época. Distante do glorioso Rio de Janeiro.

Conceição Evaristo é um marco diante desta Literatura Engajada Antirracista. Com sua fabulosa obra, “Olhos d’água”, a professora doutora em Literatura que já foi empregada doméstica retrata o universo vivo e impactante desta realidade, ocultada por nossas autoridades, excluída por nossa sociedade.

Hoje essa Literatura desponta, provoca a reflexão e conquista o pódio da Literatura Nacional através dos diversos prêmios obtidos neste início de década. Djamila Ribeiro com a sua obra, “Pequeno Manual Antirracista” conquistou o prêmio Jabuti do ano passado. Assim aconteceu com Jeferson Tenório e seu “O avesso da Pele”. Melhor romance de 2021. Obras que potencializam vozes caladas pela sociedade brasileira.

Carolina Maria de Jesus foi sim a maior representante dessas vozes no século XX, pois viveu a exclusão, e desta o seu diário era composto. Explorada por muitos, desacreditada por outros, Carolina fez a Literatura que muitos esperavam, mas sentiam vergonha. De posse de uma revista de 20 de junho de 1959 vejo o quão preconceituoso foram os autores da matéria. Mesmo com o sucesso dos achados de Carolina, a mesma ainda fora destratada. O descrédito dado àquela mãe-solo e negra era o berro dos infestos. A ordem dada pela casa-grande que até hoje se impõe dessa forma tenta obter seus ilícitos.

O incentivo à leitura desses autores e suas obras revisita um passado esquecido, suas obras vitais e o ser humano que fazemos questão de esquecer – o injustiçado – os cidadãos esquecidos pelos brasileiros. Todavia, o grito dos injustiçados reverbera entre os nossos escritores contemporâneos. Disseminemos a verdade. Conclamemos nosso povo!

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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