2 de novembro de 2024
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Artigo: Aqui ainda há esperança

Por: Rodrigo Segantini*

Sinto muito porque a campanha presidencial se apequenou ridiculamente, como todos podemos ver logo nos primeiros dias de disputa aberta de propaganda eleitoral e de debates e entrevistas já na condição de candidatos. É realmente algo lamentável que tenhamos tão prematuramente chegado a esse ponto.

Jair Bolsonaro, quando candidato à presidência pela primeira vez, disse que combateria a corrupção, que modernizaria a máquina pública e que se afastaria das velhas práticas do chamado “centrão”. Não fez nada disso – aliás, alguns dizem que fez exatamente o contrário disso. Quem o defende alega que seu mandato foi afetado pela adversidade da pandemia. Porém, esse argumento, além de não ajudar, só piora sua situação, já que sua atuação diante desta catástrofe foi quase uma tragédia à parte: dificultou o acesso à vacina, zombou de quem queria se vacinar, deu de ombros ao avanço da doença e mostrou desdém em relação à mortandade e, portanto, ao luto das famílias.

Lula não é melhor que Bolsonaro. Experimentado como presidente da república como seu principal rival, não é preciso dizer que o alegado combate à corrupção que Lula tem dito que houve nos governos petistas sofreu ataques tão atrozes que culminou no desmonte das operações havidas. O PT também não modernizou a máquina pública, mas isso nem era esperado, porém surpreendentemente se aliou a partidos que criticava para se refestelarem juntos. Ainda que se diga que Lula beneficiou os mais pobres e que distribuiu rendas por meio de programas sociais, devemos considerar que em proporção muito maior beneficiou os mais ricos e que governou em um tempo de bonança e que havia dinheiro em caixa, deixado pelo governo anterior.

Portanto, a escolha entre Lula e Bolsonaro é uma dúvida entre a panela ou a frigideira, algo muito cruel. As pesquisas demonstram claramente que há uma massa desesperada, na qual me encontro, que gostaria que houvesse uma sólida opção de terceira via, consistente suficientemente para garantir uma opção entre essas duas sombras que avançam sobre o futuro da nação. Infelizmente, parece não haver.

Ciro Gomes e Simone Tebet se apresentam como essa esperança. Mas, infelizmente, não estão avançando muito, não passam do teto de 10% das intenções de votos. Seria maravilhoso que qualquer um dos dois conseguissem furar essa bolha e avançar, pelo menos para incrementar a discussão e fazer com que o embate entre Lula e Bolsonaro não se pareça um confronto entre Corinthians e Palmeiras, mas realmente uma exposição lúcida de ideias claras e propostas objetivas para um governo de um país como o nosso.

Meu desalento é me dar conta que, mesmo que haja alguma esperança, é algo tão tíbio que nem sei se vale a pena insistir nela e mantê-la acesa. Parece-me que o resultado está cristalizado e que vamos caminhando em uma direção em que seremos obrigados a escolher entre o menos pior de cara, logo no primeiro turno, para evitar a possibilidade de um rebote do mal maior no segundo turno. Isso é realmente lamentável.

Lamentável porque, em tempos em que só temos tempo e disponibilidade para assistir a vídeos em Instagram e Tiktok, que não queremos ver debates sérios sobre qualquer assunto mas nos empolgamos com os recortes dos momentos mais polêmicos, que damos mais valor a memes do que a notícias. Lamentável porque o destino do país não está nas mãos de eleitores, mas de torcedores. Os problemas do Brasil serão resolvidos como um jogo de futebol entre times rivais.

Felizmente, para o Governo de São Paulo, temos um candidato pró-Lula de um lado e um pró-Bolsonaro do outro, mas também temos uma terceira via, ao contrário do que há em âmbito nacional. Trata-se de uma opção bastante consistente e que, apesar de ter falhas e defeitos, tem condições de manter o Estado evoluindo e se desenvolvendo. Se lamentamos o infortúnio da nação por sua falta de opção, os paulistas podem suspirar aliviados porque pelo menos por aqui ainda podemos dar um jeito e não deixar esse dualismo estúpido prosperar. Aqui ainda há esperança.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.