Crônica: Desculpe-me, Sócrates! Ainda falta diálogo
Por: Sérgio Sant’Anna*
Infelizmente as palavras não são usadas como armas de transformação, mas como armamentos de guerra. Como gangues, os que as usam fazem questão de machucar, ferir, denegrir… Dessa forma o autoritarismo sobressai, o diálogo corrompe-se e suas ideas são capturadas pelos pseudoidealistas capazes de oferecerem benefícios em troca do seu apoio. A Democracia ainda nos permite a alternância de poder e pular etapas é massacrar o pensamento de muitos em benefício do seu mais puro e vil interesse. Portanto, aquele que já usufruiu das benesses do poder é lógico que bradará para que seus pares assumam ou mesmo permaneçam. O desejo é de sempre querer mais nem que para isso estraçalhe aos meus semelhantes e abocanhe aos seus interesses…
O que mais observamos, através das redes sociais, é que o diálogo, arma disposta, exposta e praticada por Sócrates, parece-me ter naufragado. As redes, cujo potencial seria a navegação, transformou-se num ringue. Mentiras transformam-se em verdade assim como governos autoritários proclamaram. É a lei daquele que tem a função postar como uma meta, e dela ultrapassa os limites do bom senso. O que na verdade seria um veículo para a comunicação deu lugar as ofensas e construção de teses ignóbeis e infundadas. Estamos feito ilhas, isolados, dialogando com a ignorância. Dando ibope para o progresso do ódio, a expansão de falsas teorias e a construção de uma sociedade adoentada pelo universo da mentira.
Semana passada presenciei uma discussão no trânsito em função de um erro, sem gravidade, de um dos condutores. Depois de muitos palavrões vociferados, ambos saíram de seus veículos, trancaram todo trânsito e lutaram conforme animais. Sensação horrível para os que observavam, e tristeza para as esposas e crianças que gritavam desesperamente pelo término da rinha. O nosso tempo restante parece ter se transformado em objeto de luxo, produzindo seres humanos imediatizados pela rapidez, pela busca do lucro desenfreado, encolhendo nossa capacidade de raciocínio e diálogo. Vivemos uma retrotopia, como clamava Bauman em sua obra de mesmo nome.
Esta semana uma amiga escritora, veio através de suas redes sociais afirmar que estava deixando as redes sociais devido a essa tomada de tempo que as mesmas nos trazem. Em sua declaração, a alegação era a de que a leitura, assim como a produção de mais uma obra estavam sendo engolidos pelas horas que dedicava às redes sociais. Um gesto de amor, uma atitude corajosa, principalmente em um mundo que não consegue mais se desfazer dessas mazelas e que cada vez mais se enganam acreditando que estamos progredindo. Infelizmente o regresso está mais próximo. Falta diálogo.
*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.