Em Tempo – Mosaico poético
Por: Prof. Gilberto Tannus
“Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos. (1)
Chega um tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram
E o coração está seco. (2)
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não dei por esta mudança:
– Em que espelho ficou perdida
A minha face? (3)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada,
Suave mistério amoroso. (4)
Chove…
Mas isso que importa!
Se estou aqui abrigado nesta porta
A ouvir na chuva que cai do céu
Uma melodia de silêncio
Que ninguém mais ouve
Senão eu?
Chove… (5)
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca. (6)
Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
E a paixão dos suicidas que se matam sem explicação.” (7)
* Créditos: 1. Vinícius de Moraes; 2. Carlos Drummond de Andrade; 3. Cecília Meireles; 4. Mário Quintana; 5. José Gomes Ferreira; 6. Oswaldo Montenegro; 7. Manuel Bandeira.
*Prof. Gilberto Tannus é mestre em história pela Unesp