Crônica: Enquanto o Carnaval não vem
Por: Sérgio Sant’Anna*
Ao som de um rock nacional de meados dos anos 1980 a comida era feita acompanhada de uma taça de vinho chileno. Na mesa mais distante a agenda para a escrita recebia algumas ideias para o ano que se iniciara. Lá fora a chuva reinava. No fogão o arroz alertava para o ponto, era hora de desligar o botão e colocá-lo a esperar enquanto a carne era cozida à soma de batatas.
Os vizinhos eram silêncio (o sonho de todos), apenas o barulho de uma TV que estava sintonizada no dominical Fantástico. Ele desejava escrever e nada poderia atrapalhá-lo, pois a concentração deveria acontecer. Ele escutava as rãs e as incorporava ao texto; os personagens que se aglomeravam à crônica eram fauna.
Não era um poema completo como as de Manoel de Barros, todavia era uma crônica de tanto de lirismo a assemelhava à Rubem Braga. Aquela chuva que caíra despertava a nostalgia, entretanto deixarão marcas em milhares de seres humanos desabrigados, desaparecidos e de todos aqueles cujo coração é altruísta. Tristeza. Infelizmente janeiro e fevereiro é assim. E onde se encontram os gestores…devem estar usufruindo de suas férias. O Congresso para; a Justiça para; as câmaras municipais param. O dinheiro para clamando por fevereiro.
Enquanto isso ele escreve, faz comida, sozinho…eles sofrem as dores das catástrofes climáticas, os políticos escondem-se e o domingo se vai. Muitos comem, outros enterram, aqueles permanecem reclusos enquanto o Carnaval não vem. E quando vier tudo passará, inclusive essas dores que o mundo enfermo apresenta. O Carnaval parece ser um santo remédio…
*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.