17 de novembro de 2024
Artigo / Crônica / PoemasGeral

Escrever: exercício da reflexão

Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

Escrevo para que os leitores leiam, seria essa a definição do senso comum, porém o meu anseio é por muito mais… Escrevo para que as pessoas reflitam, para que aprendam a pensar pensando sobre aquilo que escrevi. Que sejam capazes de me criticarem, desfilarem o seu veneno como as mais peçonhentas das víboras, todavia que também possam me afagarem com os seus elogios, deixando-me vaidoso, feliz, pronto para escrever mais…

Escrevo pensando em existir, em me sentir, em detectar o mundo a minha volta, em entender o comportamento humano. Escrevo esperando pelo inusitado, pelo diferente, a espera da misteriosa inspiração, porém o que me aparece apenas é a laboriosa página surgida com a transpiração. Suor seria a palavra mágica para o texto moldado, definido, inusitado. Enganam-se os que questionam o trabalho de um escritor, alegando ausência de trabalho. Pelo contrário, o suor é a sua marca, os calos são sua sina e as dores de cabeça os acompanham.

O texto só nasce da união entre o amor e o trabalho, entre a paixão e a razão, entre o ser e o não-ser, um mundo cercado de antônimos. E depois de tantas páginas escritas, papéis rasgados, canetas estouradas pelo excesso, o texto vai se definindo, apresentando-se como adulto, ganhando formas, mas tudo pode acabar de repente, pois somos dominados pelo ócio, aquele em que a preguiça, sua aliada, pega-nos e somos nós absorvidos pelo nada que nos leva a nada. Eis então, a invenção da roda e tudo começa novamente, esta busca ansiosa pelo texto perdido, a palavra não-dita, o enredo engasgado, o texto maldito…

Palavras são como o vento, sopradas e esquecidas, caso não sejam anotadas naquele momento somem como grãos de poeira. E o texto precisa ser inesquecível, pronto para levar à reflexão, apto a promover discussões, cravando o punhal naquele coração esquecido, saudoso pelo vocábulo definitivo.

Escrevo para fazer minhas filhas dormirem, para encantar minha esposa, para alegrar aos meus familiares, para satisfazer aos meus amigos, só não escrevo textos de autoajuda, pois destes estou cansado, são como os remédios paliativos, depois perdem o seu efeito, caem no esquecimento, diferente da potente literatura, esta que faz pensar, analisar, se sentir. Escrevo para a mais triste das almas, pois quero vê-la feliz. Tento alimentá-las e induzi-las a progredir. Escrevo.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.