26 de dezembro de 2024
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Artigo: A nova onda

Por: Rodrigo Segantini*

Ao ouvir que uma nova variante do SARS-CoV-2, vírus que causa a covid-19, na África do Sul, o que estaria levando o mundo em pane mais uma vez, ainda mais que pouco antes disso a Europa já estava sendo assolada por um novo surto da doença, imediatamente senti um temor de acontecer uma nova onda da pandemia com a qual temos convivido há quase dois anos. Porém, por um traço infantilizado de minha personalidade, ao mesmo tempo em que pensei nesta tal “nova onda”, imediatamente lembrei de uma animação da Disney, lançado há quase vinte anos, chamada “A Nova Onda do Imperador”.

Este filme conta a história de Kuzco, um jovem egoísta que se torna imperador inca. Ao demitir uma de suas conselheiras mais próximas, ela planeja um plano para se livrar do rapaz, mas, por engano, em vez de lhe dar veneno como planejado, faz com que ele tome uma poção mágica que o transforma numa lhama. Apesar de manter sua consciência humana e até capacidade de fala, transformado em um animal enquanto sua ex-ministra assume seu trono, Kuzco enfrenta uma árdua jornada para retomar sua condição humana e seu império, levando ao final inúmeras lições de humildade, compaixão e empatia, qualidades necessárias para o exercício da liderança.

Como é uma novidade, A nova variante do vírus da covid-19 descoberta na semana passada na África do Sul foi denominada ômicron, seguindo o modelo até o momento adotado, de usar denominações a partir do alfabeto grego. A letra ômicron, ao contrário das outras do alfabeto grego, não é usada em ciências ou matemática, porque, parecida em formato e em pronúncia com nossa letra O, se parece muito com o número zero, o que poderia causar alguma confusão. Então, ômicron, para uso científico, não tem utilidade – até agora, pelo menos.

Enquanto isso, no Brasil, estamos com mais de 70% da população imunizada contra a covid-19. A despeito do tanto que o presidente Bolsonaro fez para que o país aderisse à cloroquina como prioridade no enfrentamento e tratamento da doença, atualmente nosso país é um dos mais bem-sucedidos no mundo na vacinação deste novo coronavírus. Mas especialistas alertam que, apesar de isso ser uma boa notícia, para estarmos realmente seguros, devemos passar do patamar de 85% da população imunizada.

No entanto, há um segmento de gente ignorante que resiste à vacina por causa de conceitos e ideias totalmente idiotas, com base teorias de conspiração sem pé, nem cabeça como se fossem verdades absolutas propaladas por imbecis. Por causa de gente assim, há espaço para variantes do SARS-CoV-2 aparecerem, já que a circulação do vírus favorece suas mutações. Esse ciclo evolutivo pode fazer surgir uma cepa que seja capaz de vencer a vacina. Ou seja: por causa de um bando de ignorantes, em vez de vencermos a doença, a humanidade é capaz de torná-la mais forte até que não haja meio para combatê-la ou para prevenir seu agravamento.

Parece que os cientistas estão falando grego, como as letras que denominam variantes do vírus, porque, além dos ignotos que recusam se vacinar, há os insanos que, só porque tomaram o imunizante, acham que podem voltar a viver normalmente, sem nenhum cuidado para evitar sua infecção. Isso porque se tem algo que é como o ômicron para as ciências é a burrice humana. Vislumbrando a possibilidade de uma nova onda de covid-19, tal como já tem acontecido em vários países, que estão elevando o sarrafo nas medidas de proteção mais uma vez, o que a gente faz por aqui em terras brasilianas é aplaudir o imperador em suas motociatas, efusivamente acompanhadas e aplaudidas por aqueles que o consideram um mito (o que, curiosamente, me parece ser uma entidade lendária que não existe, nem pode ser levado a sério).

Antes tudo não passasse de uma animação da Disney…

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.