Carbono zero e o cuidado com ambiente e crescimento econômico
Por: Glauco José Côrte*
As discussões da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) confirmam que a próxima década será crucial para o planeta. Ações mais ousadas de descarbonização da economia são indispensáveis para o mundo alcançar a meta de limitar em 1,5 grau Celsius o aumento médio da temperatura global e reduzir os riscos de eventos naturais extremos.
O contexto é desafiador, mas o Brasil reúne as condições necessárias para cumprir os compromissos ambientais e ser um dos protagonistas da economia de baixo carbono. Cerca de 85% da nossa matriz elétrica é formada por fontes renováveis de energia. Temos a maior reserva de água doce do planeta e uma rica biodiversidade, e quase 60% do nosso território é coberto por florestas.
Além disso, a indústria brasileira tem investido na descarbonização dos processos de produção. As emissões de gases de efeito estufa dos fabricantes de cimento instalados no país são 11% menores do que a média mundial. O setor de papel e celulose, que destina 9 milhões de hectares ao cultivo de árvores para fins industriais e preserva outros 5,9 milhões de hectares de florestas nativas. Entre 2006 e 2016, as indústrias químicas reduziram em 44% as emissões de gases poluentes.
No entanto, precisamos avançar ainda mais. Para zerar as emissões e estimular o crescimento econômico, precisamos de governança institucional e de um ambiente regulatório que incentivem os investimentos no país. Um passo decisivo nessa direção é a aprovação de uma reforma tributária ampla, que eleve a competitividade das empresas brasileiras nos mercados comprometidos com a sustentabilidade.
Outra ação importante é a ampliação dos recursos disponíveis e a facilitação do acesso às linhas de financiamento e aos incentivos à ciência e à inovação. A inserção do país nesse novo ambiente requer, ainda, a melhoria da qualidade da educação, a capacitação dos trabalhadores, e o fortalecimento da nossa infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
Os desafios são muitos e a agenda do país é complexa. Entretanto, as exigências impostas pelas mudanças do clima devem servir de estímulo para o Brasil acelerar a construção de um projeto nacional abrangente que combine o crescimento econômico e social com a transição para a era do carbono zero.
O êxito dessa estratégia, que depende de uma ação governamental mais robusta e da atuação conjunta dos setores público e privado, é decisivo para o país cumprir os compromissos climáticos assumidos na COP26 e ser o líder mundial do desenvolvimento sustentável.
*Glauco José Côrte é o presidente em exercício da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
**O artigo foi publicado no dia 11 de novembro no jornal Notícias do Dia.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.