Bactéria gerada pelo Zika duplica a destruição de neurônios
Uma toxina encontrada em alguns reservatórios de água pode ser mais uma vilã do grave surto de microcefalia ocorrido no Nordeste. Estudos realizados no Brasil apontam que essa toxina é capaz de duplicar a morte de neurônios em pacientes infectados pelo Zika vírus.
A pesquisa que foi realizada pelo Instituto D’Or (IDOR), e pelas universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e Rural de Pernambuco (UFRPE), demonstrou que a destruição de células cerebrais foi duas vezes maior quando a toxina e o Zika agiram juntos.
Na mesma análise, o grupo descobriu que a prevalência da bactéria ‘Raphidiopsis raciborskii’ e de sua toxina, a ‘saxitoxina’ (STX), era significativamente maior nos reservatórios de água do Nordeste quando comparado com outras regiões. De 2015 a 2018, 63% dos casos de síndrome congênita causados pelo Zika (que inclui a microcefalia) foram registrados nos estados do Nordeste, embora Sudeste e Centro-Oeste tenham sido as regiões com maior número de infecções registrado do vírus.
Os pesquisadores analisaram os dados, descobriram que referentes ao período de 2014 a 2018 no Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (SisAgua) e verificaram que 50% dos municípios do Nordeste tinham a saxitoxina em seus reservatórios. No Sudeste, o índice foi de 25%; nas demais regiões, menos de 5% das cidades apresentavam a toxina.
Saxitoxina é uma neurotoxina produzida por ciano-bactérias, que é exatamente o tipo da bactéria ‘Raphidiopsis raciborskii’ encontrada em maior número de reservatórios do Nordeste. Fazendo com que se multiplique em ambientes de águas calmas, sem correnteza ou turbulências. Além disso, o estudo revela que períodos de seca favorecem a proliferação de cianobactérias, deixando a população das regiões com estiagem (tempo seco) mais vulneráveis ao consumo dessa água.
O Ministério da Saúde frisou que adota “padrões internacionais para á potabilidade da água, incluindo as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), com obrigatoriedade dos prestadores de serviços de abastecimento realizarem o monitoramento constante de quais quer substâncias presentes nas minas de abastecimento e na água tratada, como cianobactérias e cianotoxinas”. Nesse caso, o Brasil foi o primeiro país a inserir a obrigatoriedade do monitoramento de cianotoxinas e estabeleceu valores máximos permitidos, de acordo com o ministério.
Nessa fase da pesquisa, não se pode afirmar que o efeito potencializador do Zika pela SXT afete humanos, por isso os pesquisadores pretendem investigar como a‘saxitoxina’ deixa os neurônios mais vulneráveis ao vírus. Caso a correlação entre a toxina e a microcefalia seja comprovada, até os padrões internacionais sobre concentração de toxinas podem ter que ser revistos.
“Por mais que esses valores máximos sejam considerados seguros hoje, de forma isolada eles podem deixar de ser seguros em uma situação de interação com outro fator, como a circulação do vírus Zika”, destacou Stevens Rehen, pesquisador da UFRJ e do IDOR.