Artigo: Cai, mas leva outros juntos
Por: Rodrigo Segantini
Vanderlei Mársico com certeza não ficou feliz em saber que o Ministério Público enviou à Câmara Municipal uma propositura para que seja aberto o procedimento para apurar sua conduta em razão dos atrasos nos pagamentos de salários e contribuições previdenciárias, o que pode levar à cassação de seu mandato de prefeito da cidade. Com certeza, deve ter ficado enfurecido pelo fato do presidente do Legislativo Valcir Zacarias ter lido a mensagem da Promotoria de Justiça, o que deflagrou o rastilho de pólvora que pode culminar com a implosão de sua carreira política. Diante de tal situação e na iminência de ele assumir o inédito posto de único prefeito a ser cassado na História de Taquaritinga, Vanderlei Mársico resolveu tomar uma atitude proativa: pedir a cassação de três vereadores opositores seus.
Isso mesmo. Em vez de Vanderlei chamar os vereadores para conversar e tentar encontrar junto com os representantes do povo uma solução para a tragédia em que a cidade está, em vez de Vanderlei chamar uma audiência pública e abrir a caixa-preta da Prefeitura para mostrar como que os cofres públicos, em vez de Vanderlei fazer alguma coisa para que a arrecadação municipal melhore, cortar gastos ou buscar recursos e investimentos que possam melhorar a situação por aqui ou mesmo em vez de Vanderlei renunciar e dizer que fez tudo o que pôde mas infelizmente não conseguiu realizar ou fazer concretizar seus planos, Vanderlei preferiu atirar. Aquele típico caso do sujeito que acha melhor morrer atirando, que cai, mas quer levar outros junto.
Segundo o prefeito, os vereadores Rodrigo de Pietro, Miriam Ponzio e Tonhão da Borracharia devem ser cassados porque mobilizam a população a participar das sessões da Câmara, as quais estão se dando de forma remota e por meio de transmissões virtuais. À ausência de galerias onde o povo possa ficar para assistir às reuniões, os três vereadores estariam participando da reunião que acontece remotamente, mas, em vez de estarem sozinhos no conforto dos sofás de suas casas, optaram por estarem com seus apoiadores em frente ao prédio da Câmara Municipal, a fim de permitir que seus correligionários possam acompanhar o ato público, ainda que seja em um ambiente virtual, presencialmente ao lado de seus representantes eleitos.
A impressão que dá é que Vanderlei Mársico se incomoda mais os vereadores mobilizarem o povo para prestar contas de sua atuação e assistirem às reuniões do Legislativo do que a situação em que a Prefeitura se encontra. O deboche de seus opositores lhe incomoda mais do que as lágrimas dos servidores ativos e inativos. Tenho certeza que isso não é verdade, tenho certeza que Vanderlei Mársico se preocupa mais com o atraso nos pagamentos dos funcionários públicos e dos aposentados do que com a oposição de alguns vereadores mais aguerridos. No entanto, aparentemente, parece que Vanderlei tem se empenhado mais em abafar a voz que brada por socorro do que efetivamente em acudir aquele que necessita. Sinceramente, não será calando três vereadores que os problemas que o prefeito enfrenta serão resolvidos.
O que nossa cidade precisa é de uma conversa franca, honesta e sincera. Para fechar as contas, medidas dramáticas serão necessárias. Qualquer dona-de-casa, qualquer pai de família sabe que, quando o dinheiro está curto, é preciso cortar despesas – e, cortar despesas na administração pública, pode significar impor condições que político nenhum gosta de fazer, pois resultam em medidas impopulares. No entanto, convenhamos, não há nada mais impopular do que atrasar salários de servidores e de aposentados ou o pagamento de fornecedores. Em vez de enviar duas dúzias de páginas para reclamar de três vereadores que se opõem à forma como conduz a cidade, Vanderlei Mársico poderia ter enviado duas dúzias de páginas para revelar a condição financeira verdadeira da Prefeitura e mostrar em que momento em que ele perdeu efetivamente o controle da situação.
O povo reconhece que Vanderlei Mársico tem qualidades administrativas, vê nele um bom gestor. Se não fosse assim, não o teria reeleito. Se o povo reelegeu Vanderlei como prefeito, é porque a maioria da população acreditou que ele seria a pessoa ideal para dirigir (ou continuar dirigindo) os destinos da cidade. Então, é uma pena que uma pessoa que tinha uma imagem tão positiva entre os taquaritinguenses veja sua reputação se desmanchar em um derretimento impressionantemente rápido sem que seja capaz de adotar qualquer atitude que possa evitar que isso aconteça. Parece-me que Vanderlei não merecia passar por isso e que essa nem era a vontade dos taquaritinguenses. No entanto, também me parece que Taquaritinga não merece passar pelo que tem passado e que essa também não era a vontade de Vanderlei.
O prefeito Vanderlei Mársico só conseguirá resolver os problemas da cidade efetivamente se conseguir ser o motriz de uma grande união de esforços em prol deste propósito. Não conseguirá ser esse grande líder que esperamos que seja pedindo a cassação de seus opositores. Uma pena – para ele, para nós e para todo mundo – que as coisas estejam acontecendo assim, como um tiroteio em uma terra de ninguém, ao invés de em um ambiente de consternação e concórdia em busca de uma solução.
*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.