14 de maio de 2025
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Jogando Limpo – Futebol de interior: resistência e identidade

Por: Rodrigo Panichelli*

Nem só de arenas multiuso vive o futebol. Nem só de camisas vendidas na Ásia, contratos milionários e transmissões em 4K se constrói a alma do jogo. Ainda existem lugares em que o futebol é, antes de tudo, identidade. Onde o clube é tão importante quanto a escola, o hospital, a praça da igreja. É sobre isso que quero falar hoje.

Os times do interior resistem. Não apenas como peças decorativas do calendário nacional, mas como pilares de comunidades inteiras. Seja em Sertãozinho, Votuporanga, Novo Horizonte ou Limeira, o futebol pulsa nos bares, nos mercados, nos caminhões de som que anunciam “hoje tem jogo!”. Nomes como XV de Jaú, Comercial, Inter de Limeira, Noroeste, Marília e tantos outros não são só times: são sobrenomes de famílias.

E aqui, em Taquaritinga, não é diferente. O Clube Atlético Taquaritinga, o nosso CAT, é mais do que um clube. É um símbolo da cidade, uma paixão que atravessa gerações. O estádio Adail Nunes da Silva, o “Taquarão”, já viu tardes históricas, gritos de gol inesquecíveis e lágrimas que viraram orgulho. O CAT representa aquele sentimento que só o interior entende: o de lutar contra tudo e todos, com dignidade e raça.

Esses clubes enfrentam tudo: falta de patrocínio, calendário apertado, estrutura limitada, e uma concorrência desleal com as gigantes capitais. E mesmo assim, seguem. Porque sabem que sua existência não se mede em troféus, mas em memórias. O primeiro jogo com o pai. O gol visto do alambrado. A festa no bar do seu Zé quando o time escapou do rebaixamento.

O futebol do interior nos lembra o que o futebol deveria ser: um ponto de encontro. Um lugar de pertencimento. Um espaço em que o talento ainda nasce da várzea, do terrão e da coragem. Onde o jogador ainda conversa com o torcedor na calçada. Onde o técnico ainda é vizinho da gente.

E mesmo que a elite do futebol siga sua estrada de cifras e contratos globais, é nos cantos mais humildes que o jogo se mostra mais puro. O grito que vem do interior ecoa mais forte porque é sincero, sofrido e apaixonado.

O futebol do interior não é o passado do futebol brasileiro. É a sua essência. E, se tivermos juízo, será também o seu futuro.

*Rodrigo Panichelli é colaborador de O Defensor.