23 de dezembro de 2024
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Desvendando o ‘Teste da Linguinha’ em recém-nascidos: quanto a cirurgia de frenotomia é verdadeiramente indicada?

Em uma prática que já perdura quase uma década, o Ministério da Saúde estabeleceu um protocolo que torna obrigatória a realização do “teste da linguinha” em recém-nascidos em todas as maternidades do Brasil. O propósito desse Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua é identificar a anquiloglossia, um problema congênito que afeta o frênulo lingual dos bebês e, em alguns casos, pode prejudicar a amamentação.

O frênulo, uma membrana sob a língua, age como um “ligamento”, conectando-a à cavidade inferior da boca e facilitando sua mobilidade. Alterações no frênulo podem impactar a amamentação do bebê, levando a complicações como anemia, baixo peso, irritabilidade e exaustão, tanto para o bebê quanto para a mãe. Quando o frênulo é mais curto, o bebê tem dificuldade em abocanhar corretamente o seio da mãe, resultando em problemas de sucção, dor para a mãe e outras complicações associadas.

“A língua do bebê precisa de mobilidade adequada para abocanhar o seio corretamente durante a amamentação. Se o frênulo está curto, a língua fica mais baixa e mais ‘para dentro’ da boca. Isso limita sua capacidade de alcançar o seio materno e extrair completamente o leite”, explicou Natália Oliveira de Jesus, fonoaudióloga do Hospital Israelita Albert Einstein.

As lesões no seio da mãe são indicativas do frênulo mais curto, aparecendo na linha horizontal, no centro do mamilo e frequentemente causando escoriações na aréola. Quando o bebê tem dificuldade em mamar devido a esse problema, ele recorre a movimentos compensatórios, como usar a bochecha e a gengiva, o que pode resultar em dores e desconforto para a mãe.

Corrigindo o Frênulo: Um Delicado Equilíbrio

A correção das alterações no frênulo pode ser realizada por meio de cirurgias, mas apenas quando estritamente indicado. Especialistas alertam que a indicação para a cirurgia é às vezes feita de forma excessiva.

O diagnóstico geralmente ocorre após o parto, com a equipe de enfermagem e o pediatra usando um protocolo chamado Bristol para avaliar a estrutura do frênulo numa escala de 1 a 7. A gravidade da alteração determina a classificação. Casos mais graves de anquiloglossia podem prejudicar significativamente a amamentação e, portanto, podem ser considerados para cirurgia.

O Papel Essencial dos Profissionais de Saúde

Profissionais de fonoaudiologia desempenham um papel crucial nesse processo. Eles avaliam se a amamentação do bebê está funcional mesmo com o frênulo alterado. Se o bebê consegue mamar e não há lesões para a mãe, a orientação é monitorar com o pediatra para garantir o ganho de peso e o desenvolvimento adequado do bebê.

Oliveira enfatizou que a cirurgia não é indicada sem necessidade. A segunda fase do acompanhamento ocorre durante a introdução alimentar. Em alguns casos, a mobilidade reduzida da língua pode dificultar a mastigação, levando a ponderar a correção cirúrgica. Contudo, se o bebê passou pela amamentação e pela introdução alimentar sem problemas, geralmente não há motivo para cirurgia.

Desafios na Fala: Uma Preocupação Futura?

A terceira fase de acompanhamento é quando o bebê começa a falar. Muitos pais temem que uma língua com frênulo encurtado possa causar dificuldades de fala. No entanto, muitas crianças desenvolvem fala normal mesmo com o frênulo alterado. Questões relacionadas à fala geralmente surgem na idade adulta, quando distorções ou dificuldades na fala podem se tornar aparentes.

Oliveira sublinha a necessidade de avaliações contínuas, reforçando que não existem exercícios que possam soltar o frênulo espontaneamente. A correção cirúrgica é reservada apenas para casos em que a função de sucção está gravemente comprometida.

Polêmica e Orientação Profissional: o Posicionamento da Sociedade Brasileira de Pediatria

Enquanto a obrigatoriedade do teste nas maternidades é estabelecida, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) contesta essa prática. A SBP ressalta a importância de um diagnóstico profissional, indicando que um exame clínico bem conduzido e uma observação detalhada durante a amamentação podem ser suficientes para diagnosticar a anquiloglossia. Além disso, a entidade enfatiza a necessidade de critérios rigorosos para a cirurgia, especialmente no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), onde a intervenção deve ser garantida quando necessária.

Em suma, o delicado equilíbrio entre intervenção cirúrgica e necessidade médica deve ser cuidadosamente mantido. A orientação e avaliação de profissionais de saúde capacitados são essenciais para garantir que os bebês recebam o cuidado necessário, sem submeter a cirurgias desnecessárias. A decisão sobre a frenotomia ou frenectomia deve ser baseada na funcionalidade da amamentação e nas necessidades específicas do bebê, garantindo que cada passo seja cuidadosamente ponderado e, acima de tudo, seguro para o bebê e a mãe.

Fonte: Agência Einstein