22 de janeiro de 2025
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Artigo: O pragmatismo lulista

Por: Carlos Galuban Neto*

Quando falam de Lula, os analistas políticos – mesmo aqueles que dele são críticos – são quase unânimes em apontar o pragmatismo como uma de suas principais qualidades.

De fato, em muitos assuntos, o líder petista ignora as ideias mais amalucadas de seu partido e deixa seus bons ministros trabalharem, de que são exemplos Antônio Palloci e seu ajuste fiscal no primeiro mandato e, mais recentemente, Fernando Haddad e a tão esperada e há tanto tempo discutida reforma tributária.

De tempos em tempos, contudo, o diabinho que assopra um dos ouvidos de Lula parece ganhar a briga contra as vozes da razão e o presidente resolve atravessar a rua para escorregar na casca de banana na calçada oposta.

Poderia falar da nomeação de Jean Willys a cargo na SECOM, mas isso seria atribuir ao rapaz uma relevância que, felizmente, ele jamais terá. Fiquemos, portanto, com assuntos mais relevantes.

No início da semana, terminou a conferência entre os países membros da União Europeia e as nações que compõem a CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), realizado em Bruxelas, sede do bloco europeu.

Durante o encontro, Lula buscou marcar oposição ao presidente chileno Gabriel Boric, que criticara – com razão – a invasão da Ucrânia pela Rússia, classificando-a como uma séria violação ao direito internacional e pedindo aos pares latino-americanos que deixassem de avaliar o conflito sob a ótica ideológica e passassem a condenar as ações do regime de Vladimir Putin.

O petista chamou o chileno de “jovem apressado”, mas a verdade é que Boric, embora tenha apenas 36 anos, é dono de visão moderna, que escancara o atraso de boa parte dos líderes latino-americanos: criticar o autoritarismo de regimes ideologicamente alinhados (caso da Venezuela de Nicolás Maduro) ou de governos cujo alinhamento é tão somente não ser os EUA (caso da Rússia de Putin) não é trair os ideais de esquerda ou cumprir os interesses das grandes potências. É, tão somente, estar do lado certo da História e evitar fornecer munição preciosa aos fanáticos da extrema-direita.

Caso passe a concordar com Boric, Lula não perderá um voto sequer da esquerda e, de quebra, ainda poderá aumentar popularidade com os eleitores que, a cada eleição, se alternam entre os polos opostos do espectro político. Se o petista é de fato pragmático, seria uma ótima hora de exibir tal virtude.

*Carlos Galuban Neto é advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.