14 de dezembro de 2024
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Crônica: Os números de um Brasil desigual e violento

Por: Sérgio Sant’Anna*

Havia pensado em escrever sobre algo que proporcionasse mais alegria, felicidade, algo que carregasse mais positividade, todavia ao ler e verificar os dados apresentados pelo “Anuário de Segurança” o texto foi-me sendo apresentado como um misto de revolta, indignação, pois quando a maior autoridade do País conclama seus asseclas a partir para violência, é lógico e notório que a situação caminharia para estes números em manchetes que possuímos hoje.

No ano passado, o Brasil registrou o maior número da história de casos de estupros – considerando também estupros de vulneráveis. De acordo com os dados apresentados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados no último dia 20 de julho, são 74.930 vítimas. Ou seja, tivemos mais de 6.200 casos por mês, 205 registros de crime por dia. Os números são preocupantes e alertam apenas para os casos informados à Polícia. Uma triste realidade, que se esbarra com a desigualdade e a ausência do investimento em Educação. O aumento em relação ao ano de 2021 foi de 8,2%.

O Anuário mostra-nos que são mais de 37 casos de estupro a cada 100 mil habitantes. E pasmem: quase 70% das vítimas possuem menos de 13 anos, estes com um aumento em relação ao ano anterior (2021) de 9%. Em 2021 foram 52.057 casos registrados, e, em 2022 chegou aos 57.000. Faço questão de apresentar os números, pois são eles que demonstram o descaso e o abrandamento da Lei para crimes hediondos como este.

O Anuário apresenta, também, que em 2022 foram 2.458 ocorrências de crimes por preconceito de raça ou de cor, e 488 registros de homofobia e transfobia. Além disso, mais de 2,5 mil pessoas LGBTQIA+ foram agredidas, ou seja, isso representa uma taxa de 1,7 caso a cada 100 mil habitantes. Sendo este valor 67% maior do que os 1464 de 2021. É muito preocupante, porque Estados como São Paulo e Rio Grande do Sul não responderam ao pedido de disponibilização dos dados de racismo.

A violência contra a mulher, feminicídio, também foi um dos crimes que mais tiveram aumento em 2022. Um aumento de 7% em relação a 2022. As tentativas de feminicídio tiveram um aumento de 17% e as tentativas de homicídio contra as mulheres houve um aumento de 10% em relação ao ano de 2021. A violência doméstica teve um salto de 237.596, em 2021, para 245.713 em 2022. O estado com maior taxa de aumento foi o do Amazonas com 92%. Violência que se inicia através da tortura psicológica, moral e culmina com a agressão física. Isso não pode ser normalizado. A passionalidade é um dos fatores que se somam aos casos de agressão e morte.

Urge, portanto, que nossas autoridades façam desses tristes números projetos que se efetivem e tornem o País, um local tranquilo, que investe em Educação, em Saúde, em Cultura e, que, principalmente puna os culpados com o rigor da Lei. Não podemos mais suportar políticos alicerçados pelo discurso de ódio e adeptos dessas atitudes difundindo-as em seus discursos e postagens pífias. Passou da hora de nos ocuparmos dessa luta, que é de todos. Basta de tanta violência! Esses números não podem prosseguir…

* Sérgio Sant’Anna é Professor de Língua Portuguesa do Anglo e COC Professor de Redação da Rede Adventista e Jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.