Artigo: Por que uma visão 4G não funcionará no mundo 5G?
Por: Márcio Kanamaru*
Diversos especialistas apresentam opiniões e comparações tradicionais entre as tecnologias 4G e o 5G e é possível encontrar no mercado dezenas de pontos de vista válidos. Entretanto, existe um problema que é o fato de os profissionais do setor terem as iniciativas voltada apenas para as funcionalidades da internet da quarta geração, o que pode gerar uma perda de foco no valor do 5G. Essa nova tecnologia oferece uma latência baixa e taxa de dados e capacidade de rede sem precedente. No entanto, não podemos focar apenas nos aspectos técnicos.
Para adotar uma visão técnica ou comercial sobre o 5G, precisamos analisar, primeiramente sob o ponto de vista dos clientes. Existem três níveis de comunicação incluem o compartilhamento primeiro de informações importantes, segundo de pensamentos e ideias, e em terceiro sentimentos e emoções. Diante disso, precisamos refletir sobre as várias gerações de funcionalidade de rede que foram desenvolvidas ao longo das últimas décadas, como no início dos anos 90 com as tecnológicas móveis 2G e a utilização da comunicação por voz e os serviços de mensagens curtas, os famosos SMS (em português, Serviços de Mensagem Curta). Por meio desses serviços, as operadoras encontraram formas de ganhar dinheiro com esse tipo de comunicação, oferecendo produtos que consequentemente agregaram valores aos negócios.
No fim dos anos 2000, a internet infiltrava-se nos locais mais dispersos do mundo e a era da informação estava a todo o vapor. Dessa forma, era possível nos conectarmos através das redes 3G e 4G que possibilitaram a todos o compartilhamento de ideias e opiniões. Isso foi possível através da banda larga móvel, por meio de dispositivos que disponibilizaram meios de comunicação por voz, fotos e vídeos. Novamente, as operadoras encontram formas de ganhar dinheiro com esses serviços. Com esse contexto, é possível entender que 5G trará uma revolução tecnológica, pois será iniciada uma jornada rumo a uma comunicação cada vez mais rica por meio de redes de telecomunicação.
Diante desse cenário, a transição para a monetização das experiências dos consumidores e para o compartilhamento de sentimentos por meio do 5G já está em andamento. Durante as Olímpiadas de Inverno, na cidade de Pyeongchang, realizada em 2018 na Coreia do Sul, os telespectadores certamente desfrutaram de uma experiência incrivelmente rica proporcionada pela grande quantidade de câmeras utilizadas por competidores e participantes. O evento foi impulsionado por uma rede 5G em teste. Essa ação não se tratava apenas de mostrar os acontecimentos por um outro ângulo da câmera, mas sim de permitir que os espectadores realmente vivenciassem, em tempo real e alta definição, exatamente o que os próprios atletas estavam fazendo. Com isso, conseguimos entender a capacidade dessa nova tecnologia em compartilhar experiências coletivas e individuais.
Outro fator importante que ressalta a diferença da rede 5G para as demais é que, além de ajudar as pessoas a desfrutarem de experiências compartilhadas e imersivas, permitirá que os seres humanos interajam com um ecossistema cada vez maior de máquinas conectadas ao redor delas. A realidade é que os equipamentos tecnológicos estão começando a dominar uma grande quantidade da carga cognitiva humana. Por meio do 5G, dispositivos até inimagináveis estarão interconectados fazendo com que as pessoas possam colocar uma parte maior do atual esforço de aprendizado sob a responsabilidade desses dispositivos.
A realidade é que o 5G será um catalisador de mudança significativa a longo prazo no que tange ao modo como as pessoas se comunicam e desfrutam de experiências compartilhadas. No entanto, há princípios que servem de base para 4G e que não necessariamente se aplicam ao 5G. Isso significa que a visão da rede da quarta geração não pode ser aplicada para avaliar ideias da quinta tecnologia.
*Márcio Kanamaru é sócio de tecnologia, mídia e telecomunicações da KPMG.