O novo profissional do campo brasileiro
Como o setor tem se preparado para as transformações que vem sofrendo nos últimos anos
Por Renato Ponzio Scardoelli*
O agronegócio é um dos poucos setores da economia que cresce durante a crise econômica. O emprego gerado em fazendas e agroindústrias vem, porém, sofrendo transformações nos últimos anos. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, mês após mês, o setor apresenta saldo positivo de carteiras assinadas. Até julho, 126 mil trabalhadores formais foram adicionados ao agro.
Além de atividades que envolvem o campo, como colheita, aplicação de produtos, consultoria técnica, serviço de armazenamento e transportes, outros profissionais que não são graduados em Ciências Agrárias também encontram lugar neste mercado de trabalho, já que as empresas precisam também de especialistas em finanças, recursos humanos, administração, contabilidade e logística, entre outros.
Mas, ao mesmo tempo em que atrai muitos jovens, que enxergam uma oportunidade de ascensão pessoal, o setor passa a exigir maior capacidade técnica e competência gerencial destes profissionais, que ao lado dos produtores rurais, são responsáveis por uma safra que chegou a 240 milhões de toneladas de grãos na temporada 2016-2017.
Para o engenheiro agrônomo e gerente de Educação Formal do Senar Goiás, Fernando Couto de Araújo, o profissional que deseja ingressar no agronegócio deve prezar pela capacitação permanente. “Ele deve estar atento às mudanças tecnológicas que surgem constantemente, buscando se capacitar continuamente para acompanhar esta elevação e ocupar posições estratégicas dentro do setor do agronegócio. As atividades agrícolas e pecuárias estão cada vez mais competitivas, com margens de lucro cada vez mais estreitas. Portanto, os profissionais envolvidos devem realizar suas atribuições com eficiência, para contribuir para a viabilidade destas atividades”, explica.
Renato_SouzaCom o intuito de buscar o aperfeiçoamento profissional e ampliar as oportunidades de negócio, o empresário Renato Souza Santos, de 37 anos, investiu em um curso de Educação a Distância (EaD), desenvolvido pelo Senar Goiás.
Após criar a Hover Drone BR Agroambiental e trabalhar com mapeamento aéreo em áreas agricultáveis, ele percebeu a necessidade de buscar mais conhecimento em agricultura de precisão. “Como o negócio já existia, o curso somou e aperfeiçoou meu conhecimento. Hoje, nossos serviços buscam atender todas as áreas do agronegócio, de pequenas a grandes áreas. E como os Drones ou Vants podem ser empregados em todos os ciclos das culturas, durante todo o ano existe procura”, afirma.
As atividades envolvem monitoramento de lavouras e plantações, captação de falhas nas plantações, contagem de mudas e árvores, imagens georreferenciadas, contagem de rebanho e topografia.
Daniel Kluppel Carrara, Diretor Geral da Faculdade CNA, primeira instituição de ensino voltada exclusivamente para o agronegócio, criada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, alerta que o país ainda não oferece cursos especializados direcionados ao setor. “Ainda temos muita carência de cursos com conteúdos específicos para a agropecuária e o agronegócio. Hoje o campo é tão tecnológico, quanto a cidade. Exige profissionais altamente qualificados. Mas, até pouco tempo, por exemplo, não existia no País nenhum curso com foco em gestão de pessoas para o setor rural”, exemplifica.
Responsável pelo Marketing e Recursos Humanos da Jaguacy Avocado, maior produtora e exportadora da fruta (que pertence à família do abacate) no Brasil, Lígia Falanghe Carvalho, explica o Avocadoque a levou a fazer um curso de extensão em gestão de pessoas. “Em época de colheita chegamos a empregar 600 colaboradores, então me especializar foi fundamental para ampliar meus conhecimentos na área de RH, auxiliando em técnicas de recrutamento e esclarecimento da legislação trabalhista”, afirma.