Crônica: Já que aguçar a inteligência está difícil, que possamos vencer a burrice

Compartilhe esta notícia:

Por: Sérgio Sant’Anna*

Há alguns milênios a inteligência humana vem sendo aguçada, provocada a querer sempre mais. É essa a demanda esperada. É dessa forma que a filosofia socrática nos preparou e nos prepara. Não estamos prontos, afirmou o professor Mário Sérgio Cortella em uma de suas obras, porém com o passar dos anos parece que o ser humano encostou-se na burrice e do sossego dela não almeja mais distanciar-se. Tornou-se moda ser burro. E se não bastasse, tornou-se contagioso. E mais, difundir a ignorância ressaltada é charmoso. Dá likes, político-partidários obtêm votos, a ascensão te espera. Triste fim. Já dizia um radialista, “e o fim do mundo acabado”. E esse final não será glorioso como e de um Policarpo Quaresma. Desastroso, esse épico final. Longe da escrita intertextualizada de Lima Barreto.

Comecei a escrever sobre este assunto acometido por algumas décadas em sala de aula e preocupado com o futuro da Nação. Sei que durante quatro anos de um Governo ignóbil retrocedemos algumas décadas e que a pandemia, também, contribuiu para este déficit educacional, todavia a ignorância espalhou-se de tal modo que até as múmias resolveram sair das tumbas. Vivemos uma avalanche de retrocessos. Um mar de imbecilidades. Gerações sendo tragadas pelas mentiras ventiladas pelas redes sociais e acostumadas com essas que nada exercitam o pensar.

Estamos diante de uma geração que acha mais “top” ou “topizeira”, como diz o seu dicionário, não disputar uma vaga nas universidades públicas, pois os seus responsáveis possuem dinheiro para pagar uma faculdade particular. Meninos e meninas que não possuem mais a gana de disputar com o colega a tão almejada vaga numa universidade de destaque. Que não se capacitam. Uma geração que estudar é apenas uma “modinha”, exercício de intelectuais (será que conhecem essa palavra?). Estamos diante de meninos e meninas que possuem como ideal serem um youtuber, desses que se vangloriam do abominável, da mentira, da falsidade e que sonham com uma vaga como político.

São poucos aqueles que ainda leem um livro. São poucos ainda que carregam palavras para expressarem adequadamente seus anseios, suas dúvidas…vivemos uma geração da “coisificação”. Para quaisquer palavras esquecidas, usa-se “coisa”. Uma geração sem repertório sociocultural, sem argumentos, sem posicionamento. Acostumados a discussões rasas veiculadas via redes sociais, mediadas por seres vexatórios.

Esta geração foi alimentada por uma geração que ganhou a liberdade e a confundiu com libertinagem. Perdendo-se em anseios degenerados, dúvidas satisfatórias e uma legião de aliados que acostumaram-se com a terceirização da educação dos seus filhos. Um tempo de comodismo que resultou na formação de zumbis. Porém, se está difícil estimular a inteligência, que possamos combater a burrice. Lutemos, meus nobres amigos! Lutemos para que o capim não se torne vitamina ou remédio para este mal.

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

Compartilhe esta notícia: