Crônica: A extinção da espécie humana e o progresso da Terra: somos devorados por Cronos e não estamos percebendo

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Por: Sérgio Sant’Anna*

Esse lado antropocêntrico, diria o filósofo do caos, levar-nos-á a extinção da espécie humana. Fico a pensar, navegar pelo mar de incertezas e dúvidas, alimento essencial para a busca de conhecimento. E se realmente a espécie humana acabar, for dizimada, extinta, que falta faremos ao progresso do Planeta? Nenhuma. As espécies que habitam a Terra viverão muito melhores. Isentas da poluição, distantes da destruição, inúmeras espécies da fauna e flora estarão livres da extinção. E por que será que possuímos essa arrogância toda?

Essa nossa petulância em dizer que somos racionais torna-nos seres imaginários indestrutíveis, algo que não somos. A única certeza que possuímos é que um dia essa matéria, essa carcaça que ocupamos acabará. E por que tanta empáfia? Tanta arrogância? O capital, o poder aquisitivo tornou Nações poderosas, seres humanos invejáveis com suas casas gigantescas, seus veículos poderosos, seus trajes pomposos e seu dinheiro capaz de comprar a mais autêntica humildade. O ser humano é corrupto. Principalmente se há o jogo da barganha, a permuta em ação, o dinheiro fácil. O ser humano pode ser comprado. O ser humano é manipulado. O ser humano é enganado facilmente. O ser humano é volúvel. A modernidade líquida exposta de maneira acadêmica por Bauman  está aí para demonstrar nossa fragilidade e efemeridade diante de nossas relações. Tudo é passageiro. O tempo a ser utilizado com a ociosidade de outrora deu lugar a truculência e voracidade de Cronos. Este que nos engole sem que percebamos, esse que te aterroriza levando-nos aos mais psiquiátricos dos sintomas cognitivos da pós-modernidade. Somos escravizados e não percebemos. Somos reféns da guilhotina da efemeridade que o dinheiro nos alerta a comprar. Somos descartáveis e queremos durar. Somos ludibriados pelos semelhantes da mesma espécie. E eles insistem em nos enganar. Dizem acreditar numa Força Superior, num mundo pós-morte, porém são incapazes de aqui fazerem o bem. Somos egoístas. Incapazes de praticar o bem sem que possamos lucrar. Pobres seres mesquinhos, acompanhados da pequenez que se agiganta num mundo em que a falsidade torna-se a máscara atual.

É chegada a hora. Ele diz que sabe cantar, todavia nunca teve a ousadia de sair de seu apartamento e olhar ao canto dos pássaros durante aquela manhã de céu anil. Não sabe o que é isso. Nem mesmo a metáfora utilizada. Estudou às figuras de linguagem, mas dela não quis saber porque apostou no uso da inteligência artificial. Ela dizia saber arquitetar, contudo nunca observara a construção de uma casa do joão-de-barro. Chegou a debochar que faltava a porta naquela construção, mas sua ignorância a impedia de enxergar que a porta é a retidão da liberdade. Talvez essa liberdade que não a habitava, devido sua prisão aos seus conceitos infundados e acomodados. Não progresso se a dúvida não nos incomoda. Essa relação com as redes sociais tornou este ser humano imprestável. Apenas focado no agora. De acordo com aquilo que leem de maneira precária e acreditam ser o certo. Seremos administrados, guiados, estudados, cuidados por estes que aí se engenham? Estes avessos aos textões, à leitura de forma prática e conhecedora, acostumados a seguir as telas sem a análise necessária. Seremos tomados por uma geração de zumbis.

De fato, quando se dizia que o Planeta Terra chegaria ao seu final, estava-se declarando que a espécie humana acabaria devido à sua petulância, ganância e a capacidade de sabotar a própria espécie. Seremos extintos pelos nossos semelhantes, algo inimaginável diante das demais espécies. O Homem é autodestrutivo.

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

 

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