Crônica: O retrato amarelado e o míssil da Faixa de Gaza

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Por: Sérgio Sant’Anna*

A foto revisitada, carrega a memória de um tempo que não voltará mais…o cheiro do passado navega pelas narrações mnemônicas daquele que um dia viveu aquela situação num campo devastado pelo exagero do agro. O meio ambiente não mais aparece na foto tirada daquele local.

A guria da imagem é Leila, a menina que segurava a sombrinha naquela tarde de sol. Sua mãe a chamava de Leiloca, devido os seus atributos, considerados pela matriarca, exagerados. Confesso que eu não o achava. Gostava. E a amava dessa forma. Sim, ela não sabia. Amava-a calado. Segurava aquele amor guardado, contido, escondido daquela que desenhava o meu destino. O cheiro do mato campestre se avizinhava com o do meu amor. Leila era um jardim. Florido.

Quando ela partiu, rumo à sua liberdade, conheceu a cidade, e a promessa de que um dia retornaria, jamais se concretizara. Leila formou-se em Jornalismo e tragou-se pela internacionalidade da profissão. Nunca mais me escreveu. Talvez se lembrasse de mim, porém desconfio de que tenha se apaixonado por lá. Formado uma família e a guria que um dia apareceu naquele retrato, amarelado pelo tempo, não exista mais.

P.S.: Recebi a notícia, de um primo da Leila, que ela era correspondente de guerra e foi atingida por um míssil na Faixa de Gaza.

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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