Artigo: A construção de uma sociedade antirracista

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Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

É preciso a construção de uma sociedade antirracista. Como diz a professora Angela Davis: “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. Um dos assuntos da aula de Redação para este mês é este: “Como combater o racismo no Brasil?”. Um tema recorrente, necessário em meio a tantos casos de racismo diante da população negra. Quantos foram os crimes de racismo filmados e expostos nas redes sociais nos últimos anos? Inúmeros. Milhares. Centenas de milhares. E aqui indago apenas aqueles que foram filmados. E os demais? Confessa, você que lê este texto agora, quantas foram as vezes que sentiu a discriminação pelo fato de ser negro. Eu? Inúmeras vezes. É inadmissível que continuemos a ser humilhados, impedidos, confundidos, presos, assassinados por sermos negros.

Hoje no Brasil 55% da sua população é negra. Segundo o IBGE, os negros (pretos e pardos) eram a maioria da população brasileira em 2014, representando 53,6% da população. Os brasileiros que se declaravam brancos eram 45,5%. Na parcela do 1% mais ricos, 79% eram brancos, em 2014. Em 2004, havia 12,4% de negros e 85,7% de brancos nesse grupo. Em relação ao total da população, 51,2% eram brancos e 48,2% eram pretos ou pardos, em 2004. Essa representatividade é relevante nas relações sociais, a fim de reconhecer a identidade de um grupo e reforçar o direito de igualdade em um caminho diverso. Podemos ver negros apresentando telejornais, ocupando as universidades e influenciando pessoas por meio de livros, redes sociais, palestras e outros cenários. Porém, ainda é preciso ter mais ações afirmativas de combate à discriminação, proporcionando transformações culturais segmentadas pelo respeito e pela empatia. Gestos altruístas devem ser ensinados, trabalhados nas Instituições de Ensino.

A marginalização da população negra, desde a época da escravização, atribuiu uma percepção de valor deturpada e estereotipada por piadas sobre cabelo, corpo, fala, entre outros. Um exemplo disso foi o que ocorreu com o professor João Luiz no Big Brother Brasil 2021, pois seu cabelo crespo foi alvo de uma piada racista por outro participante. Isso trouxe à tona o debate do racismo estrutural, que está presente na cultura, na política, no mercado de trabalho, nas instituições públicas e privadas, na educação e em diversos outros lugares. Se “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele…”, como diria Nelson Mandela, logo, esse comportamento é ensinado de alguma maneira ao longo da vida. No metrô da cidade de São Paulo, no último dia 04 de maio, uma mulher natural da Hungria, que vive no Brasil há cinco anos, pediu para que uma mulher negra retirasse o seu cabelo da proximidade da mesma, pois aquele cabelo poderia passar alguma doença; além deste caso, no mesmo dia, o vereador Camilo Cristófaro, durante uma CPI, deixou vazar o áudio de seu microfone em que, na frente dos parlamentares, ele afirma: “…é coisa de preto”. O PSB, que era o partido do vereador, desfiliou-o.

A teoria da democracia racial, embora antiga, foi apresentada formalmente ao Brasil pelo sociólogo Gilberto Freyre, em seu livro “Casa-Grande & Senzala”. A obra busca compreender o surgimento da formação familiar, bem como as características que definem o povo brasileiro. Assim, com a teoria sistematizada pelo autor, o mito acaba por ser reforçado. Tanto que, escravizados de outros países, ao terem conhecimento sobre essa possível democracia, tinham vontade de fugir para o Brasil. A ideia de que negros, brancos, indígenas e tantas outras raças e etnias vivem em paz e possuem direitos iguais no Brasil começou com a obra, porém, com o passar dos anos, ela acabou sendo negada. Um marco para a desmistificação da teoria democracia racial foi a própria Constituição de 1988, que tipifica racismo como crime, isto é, confirma a existência do racismo e a realidade desigual entre pessoas brancas e negras. Caso não existisse racismo, como a legislação brasileira iria criar medidas para combatê-lo (seria contraditório combater algo que não existe)? A educadora Valdina de Oliveira Pinto, mais conhecida como Makota Valdina, foi uma das principais ativistas contra o racismo e a intolerância religiosa no Brasil. O nome “Makota” vem da função que exercia como conselheira da mãe de santo, no terreiro de candomblé Tanuri Junsara. Ela afirmava: “Não sou descendente de escravos. Eu descendo de seres humanos que foram escravizados”. Esse racismo estrutural surge por afirmações de estudos como este do sociólogo; de outros como as fake news e o racismo reverso. O preconceito não pode passar.

Quando existe um poder Executivo não comprometido com o combate ao racismo, consequentemente haverá fissuras difíceis de seres suturadas. Eduquemos nossas crianças e adolescentes para que a cultura da paz seja difundida, e que o racismo seja abolido das nossas mentes e corações. Sejamos antirracistas!

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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