Artigo: A vida é um sopro

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Por: Rodrigo Segantini

Estava trabalhando quando soube do acidente aéreo envolvendo a cantora Marília Mendonça. Naquele momento, não havia notícias sobre a condição das vítimas. Mas, inevitavelmente, um turbilhão de sentimentos tomou conta de mim: só conseguia pensar na minha vivência quando soube da notícia do acidente automobilístico que minha esposa Adriana sofreu em 2013 e que a levou ao coma por um ano e três meses antes de falecer.

Assim como Marília Mendonça, que, antes de sair em viagem para trabalhar, se despediu do filho Léo e o deixou aos cuidados de alguém, Adriana saiu em viagem para trabalhar e deixou nosso filho Arthur na escola antes de partir para a estrada. Duas mulheres fortes, empreendedoras, ambas foram atingidas por uma fatalidade cruel que as afastou ao menos fisicamente do filho.

Depois de muitos desencontros de informações, quando realmente foi confirmada que a cantora havia falecido, meu pensamento se dirigiu diretamente para o filho dela. Para qualquer um, a partida da mãe é muito sofrida, muito difícil. Vivi isso quando minha esposa faleceu e precisei ir em frente sozinho com meu filho Arthur, tive que me desdobrar para que ele não sentisse tanto a falta que sua mãe certamente lhe fez e ainda tive que fazer com que ele não se esquecesse da mãe ou que, de alguma forma, lembrasse dela, a levasse em seu coração, sem que isso o machucasse. Não foi fácil…

Por isso, sei que igualmente não será fácil para os familiares de Marília Mendonça ir por esse caminho e que será necessário muito empenho de quem for zelar por Léo a partir de agora para poder torná-lo a criança feliz e plena que pode ser, assim como, graças a Deus, o Senhor permitiu que Arthur está conseguindo ser, tornando-se um adolescente incrível. Por isso, embora sem dúvida alguma o óbito da cantora seja algo entristecedor e comovente, mais cuidado e atenção exige a partir de agora a atenção a seu filho.

Tudo isso se passou em minha cabeça em uma fração de segundo, enquanto ouvia a notícia da morte de Marília Mendonça. Revivi todos os sentimentos que me derrubaram naquele 3 de abril de 2013, quando Adriana sofreu o acidente, e minha jornada como pai viúvo até aqui. Todos os sentimentos que passei ao longo de anos me tomaram de arroubo. Inevitavelmente, me emocionei e orei para que o Senhor, assim como foi comigo, derrame suas bênçãos e sua Misericórdia sobre a família de Marília, sobretudo de seu filho e de quem se responsabilizar pelos seus cuidados. Da artista, ficará a saudade, são seus familiares que agora precisam da Graça de Deus.

Na verdade, embora eu tenha sido assaltado pela emoção pelos estreitos fatos em comum que há entre meu filho e o filho de Marília Mendonça, devemos neste momento nos unir em preces pelos familiares de todas as vítimas do acidente havido. Devemos pedir que o Senhor acolha as almas daqueles que partiram e que cuide daqueles que ficaram. Mas, sobretudo, devemos (re)aprender a lição que insistimos em nos esquecer: a vida é um sopro. Uma mãe pode sair para trabalhar e nunca mais voltar – então, que jamais nos despeçamos sem antes deixar claro o quanto amamos a quem queremos bem, perdoando quem deve ser perdoado e pedindo perdão àqueles a quem ofendemos.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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