Artigo: O casulo e o educador: um bosque chamado vida

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Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

Nem sempre a vida resume-se aquilo que almejamos. Nossos sonhos podem esfacelar-se, todavia acontecerá no momento em que você não mais acreditar, passar a encarar seus desejos como simples, únicos, de difícil acesso. Pois bem, apenas os fracos desistem no meio do caminho, abandonam os desejos, obstruem suas utopias. A imaginação é o que nos movimenta, o sonho é aquele quem nos guia. Só são felizes os que têm essa capacidade entorpecida pela ânsia de conseguir e a tarefa de chegar lá.

As empresas necessitam de funcionários assíduos, produtivos, muitas vezes incapazes de pensarem. Podem pensar, contudo serão incapazes de sonharem, pois quem sonha por eles são seus chefes, seres rancorosos, encobertos pela casca do lucro, do capitalismo, a busca pelo primeiro lugar. Em Educação necessitamos gerir para construir; decidir para estabilizar, poder planar e alcançar ao voo da águia. Sem emoção não se faz educação, muito menos educadores felizes, capazes de acordarem e dizerem: “eu sou feliz, sou um educador”. Quero ver no rosto de cada educador o sorriso da real felicidade, dada sem o ranger dos dentes, pois esta é manipulada, estratégica, típica daqueles que vem para o trabalho apenas para pegar seu pagamento ao final do mês e não se comprometer com a causa, envolver-se com o trabalho realizado, ter em mente que sua missão como educador vai muito mais além das onças, beija-flores, emitidas pelo bancário. Quem pensa assim não merece trabalhar com educação, muito menos com crianças, e acima de tudo crianças e adolescentes que mantêm seus sentimentos escondidos, vítimas da violência, do abuso sexual, das drogas, da ignorância gerada pelo Poder Público, do desrespeito do cidadão que não acredita que a periferia é uma via de outros cidadãos, homens e mulheres que pensam, porém não têm a oportunidade de explicitarem esses pensamentos.

A minha atuação como educador começa a surtir efeito no momento em que concluo que preciso mudar, defrontar-se com as decepções do passado, que serviram como estrutura para o meu presente. É ponto fundamental para o futuro. Saber que nem todos os membros da minha equipe devem pensar como eu, pois o que seria da salada de frutas se tudo fosse melancia (haja água). O verdadeiro educador necessita do cultivo do “amor”, que nasce do latim e quer dizer amizade, dedicação, afeição, ternura, desejo grande, paixão, objeto amado. Essa é sem sombra de dúvidas a palavra mais fascinante dos idiomas. Até porque, independentemente da língua escolhida, os significados desse termo trazem em seu bojo um caráter vigoroso e múltiplo. O amor é um conceito diverso, repleto de antíteses, paradoxos, peculiaridades que o torna tão singular quanto complexo. O amor justifica, determina, agrega, permite, supera, prolonga, solicita e o mais desafiador e belo desses frutos, “perdoa”. Será que tenho essa capacidade de perdoar? Mas perdoar de verdade, não simplesmente através das palavras, é com o coração que se perdoa; é com o coração que fazemos educação; é com o coração que fazemos nossas crianças e adolescentes mais felizes; é com o coração que aprendemos que o verde é distinto do amarelo, que é distinto do azul, que é distinto do branco, mas que juntos formamos uma nação, damos vida a um País e fazemos desses cidadãos: homens e mulheres que pensam, sonham e tem suas opiniões. Sherazade fez de seu amor mil e uma noites, por que não podemos fazer de nosso trabalho, nossa missão como educadores, transformando-o em dias e noites felizes. Pois só assim poderemos dormir felizes, acordarmos felizes e poder trabalhar com alegria e a fé que nos guia.

Essa noite eu sonhei, transformei-me em uma borboleta, pois até então era uma lagarta, com um corpo encoberto por pêlos que escondiam meu veneno, capaz de acabar com os sonhos dos demais animais da fauna, seres que pensavam diferente, mas que só teriam a agregar. Hoje vejo que o casulo fez com que refletisse e pudesse ver a beleza emanada pelas diversas cores das milhares de borboletas desse imenso bosque, chamado de vida.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

 

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