Artigo: Dois filmes e os porcos humanos de Orwell

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Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

Assisti aos filmes: “A menina que matou os pais” e “ O menino que matou meus pais”, sobre o bárbaro assassinato do casal Richthofen. Na época eu era um jovem de 23 anos, já lecionava há três anos, e a quase dez anos escrevia para os jornais de Taquaritinga (SP). Um momento muito triste. Um caso que comoveu o Brasil, principalmente por envolver a filha do casal Manfred e Marísia. Confesso que a violência que envolvera o crime, cometido pelos irmãos Cravinhos, deixou-me sem palavras, numa profunda tristeza. Como o ser humano pode chegar a este ponto?

Na última segunda-feira (27), ao lado do meu amigo Cristian, professor de Espanhol nascido em Buenos Aires, viajávamos rumo ao município de São Ludgero (SC), onde ministramos nossas aulas para o Ensino Médio, e um dos assuntos discutidos, além do futebol brasileiro e argentino (Maradona, Pelé, Messi e Neymar Jr.), tratávamos sobre a crueldade humana. A capacidade do ser humano em cometer as inimagináveis sordidezes. Seria o ser humano mal? No cotidiano literário e histórico, ao trabalhar com meus alunos o Arcadismo e o Romantismo, há que se destacar o pensamento impresso por Rousseau. O bom selvagem. Embasando-me na máxima: “O ser humano nasce bom, porém a sociedade o corrompe”. E quem já não ouviu o dito popular que brada: “Diz-me com quem andas e direis quem és”. Pois é. Seria Suzane influenciada por Daniel Cravinhos, seu namorado, e aquele acusado por ela de ter a levado para o mundo das drogas, além de convencê-la de que teriam de assassinar os pais ou seria Daniel uma vítima de Suzane?

O filme apresenta as duas versões, estas ditas pelo casal (Daniel e Suzane), todavia os depoimentos dos irmãos do casal não são computados. Não fazem parte da película. Mas ao adentrar ao discurso destes depoentes, percebe-se que Andreas, o irmão de Suzane, afirma que o pai nunca fora violento com a garota, apenas num “Dia das Mães” o pai dá um tapa na cara da irmã por ser contra esse namoro e o distanciamento da mesma dos estudos e da carreira que ele tanto sonhara para ela no Largo São Francisco. Conforme depoimento de Cristian Cravinhos, irmão de Daniel, e que participa do assassinato dando pauladas no casal Richthofen até a morte, o assassinato foi arquitetado pelos enamorados (Daniel e Suzane) e que ele ajudou na execução dos patriarcas. Cristian e Suzane permanecem presos. Suzane cursará uma universidade. Daniel foi solto por bom comportamento, está casado, tem uma filha. Já sobre Andreas, pouco se sabe, apenas que a herança deixada pelos pais, de mais de onze milhões de reais ficou com ele. Notícias extraoficiais afirmam que o adulto, hoje com 34 anos, vive na Suíça e é doutor em Química. Suzane não participou da partilha devido uma Lei de 2017. Mas, pasmem, poderia ter participado, segundo uma Lei anterior. Todavia, Suzane ficou com o dinheiro deixado pela avó paterna, que fez questão de contemplá-la com mais de um milhão reais, isentando Andreas dos bens, justificando que o mesmo ficara com tudo aquilo que os pais deixaram ao jovem.

Ao longo desses últimos dias li bastante sobre essa brutalidade, e me lembrei de alguns outros crimes violentos, capazes de nos transformar em animais irracionais. Na semana passada falei aqui neste periódico sobre a violência contra a mulher. Neste a explícita possessão masculina. Autoridade vociferada através do machismo. E acabei me lembrando de um trecho de “A revolução dos bichos”, de George Orwell que diz: “…já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco”. Em ambos os textos caberia tal frase final do romance distópico para a ilustração.

Infelizmente, o ser humano é capaz de cometer as mais sórdidas atitudes. Diante do gênero filme destaco a atuação impecável de Carla Dias e que este não fora o filme da Suzane e dos irmãos Cravinhos, porém aquele que revelou ao Brasil mais uma grande atriz.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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