Artigo: A mula birrenta

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Por: Rodrigo Segantini*

A ONU foi fundada em 1945, em um esforço para restaurar a paz no mundo depois da II Guerra Mundial. O brasileiro Oswaldo Arranha teve papel fundamental na fundação da entidade e presidiu suas duas primeiras Assembleias. Foi a partir de uma proposta sua que o Estado de Israel foi fundado.

Em reconhecimento das ações diplomáticas de Oswaldo Aranha em prol da ONU, o presidente do Brasil tradicionalmente é quem abre os trabalhos da Assembleia Geral do órgão, realizada anualmente. Em tempos recentea, FHC e Lula impressionaram a comunidade mundial com seus discursos. No entanto, em geral, a fala do representante brasileiro não chama mais atenção do que os demais.

Mas em tempos da maior crise sanitária que o mundo já viu desde que a ONU foi fundada, o Brasil volta a chamar a atenção de todos, graças a seu presidente. Mas não necessariamente pelo que Jair Bolsonaro deverá falar, mas sim por causa de seu comportamento.

Bolsonaro não se vacinou e fez de tudo para dificultar que vacinas fossem disponibilizadas à população de seu país. O mundo inteiro, horrorizado, sabe disso. Dos líderes dos vinte países mais ricos do planeta, Jair é o único que não se vacinou. Mesmo recebendo conselhos para que se vacinasse, deu de ombros.

A ONU fica em Nova York. Antes de começarem os trabalhos da Assembleia, o presidente norte-americano Joe Biden se reuniu com líderes mundiais para falar sobre a situação climática do planeta, mas não quis que Bolsonaro participasse por não estar vacinado. Havendo proibição de não vacinados a frequentar estabelecimentos comerciais em Nova York, Bolsonaro, confinado no hotel onde está hospedado, jantou na calçada de uma pizzaria.

O que poderia parecer um gesto de humildade por parte de Jair comer em food truck no meio da rua, na verdade ea prova cabal de que ele passou de todos os limites aceitáveis para um presidente. Para corroborar esse fato, Marcelo Queiroga, ministro da saúde brasileiro e que faz parte da comitiva em Nova York, ao se encontrar com pessoas que protestavam contra Bolsonaro, fez cartas e gestos obcenos para a multidão.

É exatamente neste ponto que nosso país se encontra: enquanto o presidente acha que fará um pronunciamento arrasador, o mundo já não se importa mais em ouvi-lo porque sabe que ele deverá falar besteiras; por outro lado, enquanto o povo reclama que o governo deveria rever sua postura ante tudo o que temos vivido em tempos tão difíceis, o que os políticos fazem é nos mostrar do dedo do meio erguido e rijo, em total sinal de descaso; para ficar pior, ha quem passe pano para o governante achando que ele só é humilde quando na verdade ele tem sido como uma mula birrenta.

E assim empacado na verdade segue o Brasil, sem alguém para conduzi-lo adequadamente por suas rédeas. A continuar assim, alguém vai cair do cavalo. Espero que não sejamos nós, o povo.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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