Artigo: Nem lá, nem cá

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Por: Rodrigo Segantini*

Na semana passada, o Brasil se revelou um país de contradições. Enquanto o presidente Bolsonaro convoca um ato para que as pessoas que o apoiam criem um ambiente de constrangimento em seu favor, os partidos de esquerda promoveram uma mobilização em prol de uma mensagem de paz, amor e solidariedade, que, no fundo, seria de apoio ao ex-presidente Lula. Curiosamente, essas duas multidões de centenas de milhares de pessoas, vindas de todas as partes do país, na capital paulista.

Do jeito que ficou, pareceu que ou você é a favor de Bolsonaro ou você é a favor de Lula. Não há alternativa, não tem terceira opção. Isso, é claro, incomodou inúmeras pessoas. O MBL, que foi um dos artífices do movimento político que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, viu aí uma oportunidade de liderar essa massa dos que não estão nem lá, nem cá e anunciou um outro ato para tentar fazer dar liga em uma terceira via política como alternativa. Não deu certo, foi um fiasco, só reforçou que parece que ou você é a favor de Bolsonaro ou você é a favor de Lula.

Ciro Gomes tem se apresentado como alternativa. João Dória e outros do PSDB têm dito que o partido também pretende se apresentar como alternativa. O próprio MBL chegou a sugerir que o humorista Danilo Gentili poderia surgir como candidato da tal terceira via. Outros artistas, como José Luiz Datena e Luciano Huck, chegaram a sugerir que aceitariam ser candidatos da terceira via. Nenhum deles, pelo menos até agora, conseguiu se firmar nesta posição.

No entanto, pesquisas de opinião cravam que o cenário atual se divide em 1/3 das intenções de voto para Bolsonaro, 1/3 das intenções de voto para Lula e 1/3 das intenções de voto voando por aí enquanto aguarda alguém que lhe mereça. O eleitor indeciso, o eleitor que não é de direita nem de esquerda mas está preocupado com o preço do gás e da gasolina ainda não escolheu em quem vai votar. O brasileiro da vida real, aquele que não toma políticos como ídolos e tem mais o que fazer do que se iludir com promessas eleitoreiras e panfletárias, não está vislumbrando alguém que mereça seu voto.

Isso significa que nós não estamos nos sentindo representados pelos nossos representantes atuais. Nossos governantes não são capazes de traduzir nossos anseios, nem nos fazem confiar de que serão capazes de atender às nossas expectativas. É uma pena realmente, porque tira de nós qualquer alento e nos enche de desesperança.

Desesperança que faz as ruas ficarem cheias de pessoas que resolvem confiar em um mito. Um ser mitológico que, acima do bem e do mal, nem existe. Desesperança porque aquele que dizendo representar a Esperança capaz de vencer o Medo, frustrou esses sonhos e agora o medo de nós é que ele seja a única esperança. Desesperança porque parece não haver alternativas.

Será que estamos em um beco sem saída? A luz no fim do túnel, sabemos, pode ser um trem na contra-mão.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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